18 de fevereiro de 2013

Histórias da hora do almoço



Outro dia, lá em casa, a cena era essa: a comida em cima da mesa, "Seu menino" sentado de frente, "Dona moça" sentada de um lado e "Seu fióte" do outro com a boca farta de panqueca. Eu quieta, garfando aquele recheio gostoso de palmito, sem pensar em nada que preste. De repente, alguém corta o silêncio da refeição reclamando das formigas.

- Pois é, diz seu menino devar...

- As formigas pensam que são donas do mundo.
- As abelhas pensam que são donas do mundo.
- Os homens pensam que são donos do mundo.
- As baratas são!

E todo mundo cai na risada.

Pensam que acabou? Vem mais...

Engajado na questão das formigas "Seu menino" comenta:

- Sabiam que tem um formigueiro na Europa que começa na Espanha, passa por Portugal e termina na França?

E todo mundo se olha com aquela cara de "Nossa, de onde ele saiu com essa?".

Engraçadinha, "Dona moça" termina:
- São formigas trilíngues!

Quase engasguei com a panqueca.
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P.S. - Depois dessa, fui procurar. E olha só o que encontrei: "Descoberto na Europa ‘formigueiro’ de 6 mil km"

11 de Fevereiro de 2011

Adoro Ribeirão



Foto de Ribeirão Preto no final de 1960 início de 1970 Autor: Francisco AmêndolaFoto de Ribeirão Preto no final de 1960 início de 1970 Autor: Francisco Amêndola
Foto do artista plástico Francisco Amêndola (também natural de Ibitinga), da Ribeirão Preto de outrora...

Ribeirão Preto é uma cidade fantástica. Magnética, atrai para si uma energia produtiva que pouco se vê por ai. Há algo neste solo e, principalmente, nas pessoas que vivem nesta selva de pedra que cativa intensamente. 
Para quem nasceu na cidade talvez não seja tão nítida essa sensação, mas para mim, que por duas vezes recebi o “chamado” de Ribeirão Preto isso é claro. 
Aos 20 anos estive aqui de passagem, iniciando os estudos de jornalismo, mas o destino não quis que eu ficasse. A impressão desses dois anos vividos numa cidade tão atraente, principalmente para a juventude, no entanto, já havia se arraigado em mim e, depois de formada, acabei retornando. 
Desde então, lá se vão nove anos galgando este chão. Trabalhei, sofri, sorri, amei, casei, pari... E ainda há muito porvir. 
Os dias vão passando rápidos, a vida adentrando seu destino e eu aqui, assistindo minha querida Ribeirão mudar. 
Entre 1997 e 1998, quando voltava aos domingos à noite da cidade natal pela SP 333 e avistava as luzes de Ribeirão Preto ao longe, meu coração disparava. Sabe aquela sensação de formigamento e cócega, misturada com ansiedade, que a gente sente no peito quando está prestes a reencontrar a pessoa amada depois de dias distante? Pois é... Uma sensação de alegria e de regresso tomava conta de mim naquele tempo. 
Passados os anos aqui - os melhores da juventude e o início da vida adulta -, a sensação de avistar Ribeirão Preto surgir enorme no horizonte ainda constitui uma emoção muito forte.
A estrada se modificou, a cidade também, mas a alegria do “pertencimento” a este solo generoso se sustenta em mim. 
E creio que este seja um sentimento comum a todos os “ribeiraopretanos de coração” como eu. Além dele, a gratidão. 
A gente, que vem de longe ou de pertinho mesmo, sabe bem como é andar por estas ruas e se sentir em casa. Sabe como cada canto da cidade nos afeta, concentrando em si memórias que jamais serão apagadas. 
Dividimos dentro de nós as emoções de quem fomos e de quem somos em Ribeirão Preto. As ilusões, os sonhos, as frustrações e as realizações... Aqui toda dor e todo mérito não são por si só, mas por Ribeirão Preto, essa cidade mágica que nos recolhe ainda sementes, nos acolhe em seu seio farto e nos projeta para a vida frutificados... Para alimentar o próximo.
Acho que Ribeirão Preto negligencia seu potencial de cativar as pessoas...
13 de Junho de 2011

Verdade seja dita


Comentário da apresentadora Neila Medeiros revoltada com a declaração do Secretário de Obras de Luziânia. Ele afirmou que a imprensa atrapalha o trabalho deles.

  
Todo ano a mesma coisa. Os noticiários repletos de informações de desgraças por causa das chuvas. São casos de gente morrendo soterrada, gente perdendo tudo com enxurrada, gente ilhada... Gente com frio, fome, doente. Gente sem roupa, sem água, sem nada. Geeeente... E ninguém faz nada!

As cenas chocam, assustam, emocionam, mas não passam disso... Cenas a mais de uma velha história re-contada. A verdade é que enquanto não acontece com a gente ou com alguém muito próximo de nós, são apenas imagens que ilustram um tipo de sofrimento que não reconhecemos como nosso. Afinal, os nossos já nos bastam não é mesmo, para que viver o dos outros?

Nem eu, e nem muitos que estão lendo este texto neste momento, são capazes de imaginar o que é ser um "sobrevivente" das chuvas.  E se por um lado a palavra é linda porque remete a resistência de alguém que permanece vivo - apesar de algo ou alguém -, por outro, também está muito próxima da crueldade da vida que, muitas vezes, lança o homem às sobras e às sombras...

Olhando para minha casa seca, segura e com todos os bens adquiridos para ela em seus devidos lugares, dificilmente saberei o que é ter tudo levado pela água. Dificilmente entenderei o que é olhar ao redor e ver tudo cheio de lama, apenas um rastro sujo do que foi um dia... E, certamente, muitas dessas pessoas, jamais conquistarão novamente o que perderam. Outras levarão muitos anos trabalhando para ter novamente direito a algum conforto na vida.

Olhando para meu marido e minha filha, vivos e felizes, jamais entenderei a dor de quem perdeu alguém levado ou soterrado pelas águas... Estas pessoas nunca mais verão uma chuva cair da mesma maneira. Estas pessoas, nunca mais vão assistir o noticiário de janeiro, sem sentir a mesma dor daqueles que estão lá. 

Não deveria ser assim, mas se é preciso sentir na pele o aprendizado, para que as mudanças ocorram, então vamos dar poder de ação e decisão para essas pessoas. Transformá-las em agentes comunitários, assessores, vereadores e o escambau para que seja feito realmente algo útil. Quem sabe assim, se elas não se corromperem, ano que vem essa 'maldita' história seja outra e a imprensa tenha que caçar outras notícias para dar. 

Não que as chuvas sejam culpa de alguém, afinal as intempéries da natureza e da vida sempre existiram e não vão mudar. O volume das chuvas seria outro se as ações do homem fossem outras? Pode ser que sim e pode ser que não, essa é outra história. Mas para mim, se há culpa nisso tudo, ela está exatamente onde sempre esteve, na conhecida (des)humanidade de não se querer cheirar, não se querer tocar, não se querer ver e, muito menos, sentir o que não convém.
13 de Janeiro de 2012

Dia Internacional da Mulher



Obrigada, obrigada, obrigada por todos os parabéns recebidos pelo Dia Internacional da Mulher. Eu, realmente - ADORO - ser mulher. Adoro essa visão do mundo, das pessoas e de Deus que só a existência feminina pode proporcionar... De sentir a vida no âmago! O homem sente a vida na carne, olha o mundo um pouco mais à distância... E isso também é fantástico! Equilibrio é fundamental. 
Mas gostoso mesmo é ser mulher!!!!!!!!! 

Sou uma mulher,
E isso quer dizer que choro, sofro ou dou gargalhadas - ao mesmo tempo!
Sou uma mulher,
E isso não me aumenta, tampouco me diminui
Ser uma mulher me acrescenta
Acrescenta materinidade,
Acrescenta espiritualidade,
Acrescenta peculiaridade,
Só eu sei do prazer da simplicidade: 
de uma unha bem feita,
de uma escova no cabelo,
de um chinelo depois do salto,
de uma criança abraçada às pernas,
de um "obrigada mamãe",
de um beijo depois do gozo,
de um abraço depois do choro,
de dar as mãos para sair na rua...
Sou uma mulher e isso me alimenta e me corrói,
Sou uma mulher e isso me alegra, ao mesmo tempo que dói,
Sou uma mulher, por isso, sangro,
por isso, mando,
por isso, canto,
por isso, encanto,
Sou uma mulher e pronto,
Está feito!

Yara Racy - 08/03/12

Mas não se irrite



Acidentalmente, descobri que sofro de um mal (nada) súbito. Chama-se (na terminologia yarédica) “Irritadicium Plenium”. Digo acidentalmente porque, no pleno exercício de minhas faculdades, obviamente, jamais constataria ser eu, “esse ser tão calmo”, uma pessoa irritada - ao extremo -, diga-se de passagem.
Observaria, talvez, que “as pessoas ao meu redor sofrem de sérios distúrbios comportamentais” e constataria, no mínimo, que elas “insistem em se fazer notar pela inconveniência”. Acontece que, acidentalmente hoje, um fio desencapado do destino resolveu eletrocutar a minha vida.
Tudo começou com uma noite mal dormida. Em seguida, vieram uma manhã sem café da manhã, um relógio que andava rápido, mas sem sair do lugar, e uma longa lista de afazeres antes da primeira garfada. Pronto! Estava feita a M do dia... Daí por diante, tudo se resumiria a descompasso...
Uma fulana qualquer no trânsito, atormentando por uma seta não dada e (aff), hajam impropérios. Uma vergonha só. Mal humor contínuo. Filas de bancos, lotéricas e carros, muitos carros, biiiiiiiiiiiii. Uma farpa no dedo, um cisco no olho. Um 0800 pra ligar. Qualquer tentação é motivo para franzir o cenho e maldizer o dia, o outro, a vida. Oh, Céus!
Quem inventou frases do tipo: “subiu o sangue”; “saltaram as veias”; “os nervos estavam à flor da pele”, sabe a que grau Celsius se chega num momento desses.
E há ainda sempre um apaziguador por perto para dizer “Tenha calma”, como se oferecesse um copo d´água com açúcar. Ora meu amigo, o senhor, que é calmo, é que faça o favor de se irritar. Deixe-me em paz com a minha cólera! Não vou assassinar ninguém, só quero esbravejar um pouco...
Nada que um prato de miojo e o merecido desmaio no sofá no fim do dia – sem novela -, não possam resolver. De madrugada eu penso em banho ... Afinal, já é outro dia.

30 de Agosto de 2011

Atenção Extra


Pautada por uma estrutura familiar onde ambos - pai e mãe - trabalham, muitas vezes em período integral, a nova relação pais & filhos, precisa ser repensada e atualizada


Tic tac, tic tac... Não há som mais amedrontador para os pais na atualidade do que o do relógio trabalhando. Passam os minutos, as horas, os dias de uma maneira - aparentemente-, cada vez mais acelerada. E para quem tem filhos essa sensação pode ser dolorosa, pois representa não conseguir aproveitar, como se deveria, o seu crescimento.

Na sociedade atual, muitas vezes, pai e mãe precisam trabalhar fora para garantir Educação e Saúde de qualidade para os filhos. O que deveria ser um direito do cidadão se tornou uma obrigação e, nesse novo modelo, quem perde mais, filhos ou pais? Difícil mensurar...

O que se pode fazer diante dessa realidade, na opinião de especialistas, é procurar viver momentos em família com mais qualidade, cheios de afeto, brincadeiras, compreensão e diálogo. O problema para se chegar a isso, no entanto, está na noção, muitas vezes equivocada, que os pais tem sobre como dar atenção aos filhos. (a matéria continua)



Assista também o vídeo da entrevista com a terapeuta infanil Denise Dias:


 

“Quando um casal decide ter um filho precisa ter em mente que educar não é só levar a criança ao médico, à escola, ao inglês, à academia, etc. Essas são tarefas básicas de cuidadores. As mães hoje se tornaram “mãetoristas” e os pais “paigadores de conta”, só levam, levam e levam, pagam, pagam e pagam, mas não se conscientizam da importância de sentar no chão e brincar daquilo que a criança quer ou mesmo de sentar no sofá para assistir o desenho animado que ela gosta ou jogar o videogame preferido dela. Infelizmente, os pais estão perdendo esse contato na infância com os filhos”, alerta a terapeuta infantil Denise Dias.

O resultado dessa “desatenção”, tem reflexos na vida escolar e na formação da criança, que pode se tornar apática e introvertida e ter problemas de aprendizagem. Hoje em dia, como está cada vez mais comum os pais deixarem os filhos na escola em período integral, é importante lembrar que, tirando o tempo que a criança dorme, resta muito pouco para ela desfrutar com a família, então, se não dá para se ter quantidade, também não se pode abrir mão da qualidade. 

“O tempo destinado aos filhos deve ser dos filhos e não de compromissos sociais e profissionais nos quais eles, os filhos, são apenas acessórios, como por exemplo a festa de aniversário do filho do diretor de RH onde as crianças são divertidas por um animador profissional enquanto os pais passam a agenda da semana em dia, ou da caminhada pelo parque onde é possível encontrar aquele cliente e causar uma boa impressão ou mesmo nas compras no shopping ou supermercado, onde os filhos só estão juntos porque não se têm com quem deixar ou coisa parecida”, destaca o professor de História, Arnaldo M. de Bacco Junior. 

Neste cenário em construção, de um novo modelo familiar, urge a reflexão dos pais com relação ao seu papel no desenvolvimento dos filhos. “Está faltando afetividade mesmo, no sentido de dar carinho para que a criança se sinta mais especial. Ela precisa do toque, de cafuné, de grudar no corpo da mãe, fazer carinho, se jogar na cama, fazer cabaninha no quarto ou na sala. Se os pais não dão o toque cria-se uma lacuna corporal e, para a criança, isso tem a ver com afetividade. A criança precisa ouvir “vem cá filhinho da mamãe” ou “vem cá bonequinha do papai”, esses mimos não são para infantilizar, mas para que ela se sinta querida. E não há substituto para isso, quem tem que dar esse afeto são a mãe e o pai. Cabe a eles nesse mundo moderno e capitalista, pensar na qualidade do tempo com os filhos, entendendo que educar não é só pagar a melhor escola, dar banho de shopping e levar na melhor pizzaria”, enfatiza Denise Dias.

A diferença nas relações dos pais que compreendem e dão essa atenção extra aos filhos, pode ser sentida na qualidade de vida do núcleo familiar. Há muitos casos em que a mãe pode abrir mão de trabalhar  em meio período ou integral para cuidar dos filhos, mas mesmo as famílias em que os dois trabalham podem encontrar alternativas para  driblar o pouco tempo com os filhos.

O casal Pablo F. Feitosa e Bruna S. F. Feitosa tem três filhos, Samuel de sete anos, João Pedro de cinco anos e Mariana de dois anos. O trabalho do pai exige que ele passe muito tempo fora, em viagens, e para contrabalancear essa ausência, Bruna optou por cuidar dos filhos em tempo integral.

“Não adianta querer tapar o Sol com a peneira, fica uma sensação de culpa por não conseguir conciliar o trabalho com a família, ainda mais para mim que acredito nessa instituição e acho que está se deixando muito de lado a relação pais e filhos. Por isso, aproveito ao máximo o pouco tempo que tenho com eles e, nesses momentos, fica difícil saber quem é a criança, eles ou eu. Levo ao parque para passear, jogo bola, levo ao cinema, ajudo sempre que possível nos trabalhos da escola e também vamos juntos à igreja no final de semana. Percebo que faço falta, depois de alguns dias longe até levá-los na escola os deixa felizes. Às vezes eles querem almoçar comigo e não posso por causa de uma reunião, por exemplo. Fica uma sensação de pesar e se não fosse o apoio da Bruna não sei como administraria tudo isso”, conta Pablo.

Outro ponto delicado da relação de pais e filhos, na atualidade, está no estabelecimento de limites. Como explica a terapeuta Denise Dias, da mesma forma que os pais encontram dificuldade para compreender a importância e dar a atenção extra aos seus filhos, também não conseguem impor limites quando eles aprontam. “Como ficam pouco tempo com a criança, os pais se sentem “monstros” em dar a correção necessária que o filho precisa e, então, há uma inversão de valores. Sempre digo que ‘os filhos se colocam no lugar de filhos quando os pais se colocam no lugar dos pais’.  Se os pais não se colocam no topo da escada da hierarquia, os filhos vão crescendo cada vez mais petulantes e arrogantes. Compensando a ausência dessa maneira, os pais estão  na verdade criando filhos inseguros, porque a criança precisa de uma palavra final certeira”, aponta.

Na casa de Cléber José Moraes e Elvina Lisboa M. Moraes, os filhos Ana Cláudia, de 10 anos e Pablo, de 9 anos respeitam as ordens. “Pai posso assistir o jogo do Corinthians hoje”, pede Pablo. “Não sei, pergunta para a sua mãe, amanhã você sabe que tem aula cedo”, responde o pai.

Assim, dividindo as responsabilidades e não se contradizendo diante das crianças, o casal encontrou a melhor forma de educar os filhos. “Foi algo que aprendemos com o tempo. Às vezes a gente discordava, mas hoje não discutimos mais na frente deles e se um fala o outro acata”, diz Elvina.

A advogada parou de trabalhar com o nascimento dos filhos, mas à medida em que eles foram crescendo sentiu a necessidade de voltar e hoje trabalha meio período. O pai, engenheiro agrônomo, viaja bastante, mas se mantém presente na vida dos filhos e não ‘passa a mão na cabeça’  deles em função da ausência.“É a qualidade do momento que vivemos com eles que determina quem somos e quem eles serão, por isso, aproveito para brincar, colocar para dormir, viajar com eles e ajudar na grande tarefa dessa faixa etária em que estão agora: fazê-los cumprir a rotina, que vivem querendo burlar”, conta Cléber.

Como explica Denise Dias, não há uma fórmula ou um padrão de comportamento para se educar os filhos, mas com um pouquinho de criatividade é possível ‘temperar’ essa relação, mesmo na correria e stress do dia a dia.

“Não é possível que um pai e uma mãe hoje não consigam pensar em uma brincadeira para fazer com o filho, basta parar para pensar o que gostava de fazer quando era criança. As lojas de brinquedos tem uma diversidade tão grande, os canais de televisão oferecem tantas atrações para as crianças... Por exemplo, já que comer é algo que todos tem que fazer, por que não fazer isso juntos e aproveitar para conversar com o filho?  Por que não sentar para assistir TV todo mundo junto, nem que seja por 20 minutos? Por que não deitar junto do filho na hora de ir dormir, fazer um carinho, ler uma historinha? Tudo isso aproxima e cria intimidade entre pais e filhos. Isso é dar  um pouco de atenção extra, é ‘temperar’ um pouco da correria das relações hoje em dia”, conclui a terapeuta.

10 coisas para fazer junto com os filhos
Brincar de bicicleta
Brincar de bola
Brincar de casinha
Brincar de video-game
Brincar de jogos infantis
Brincar de pintura
Contar histórias
Ir ao circo
Ir ao teatro
Ir ao cinema 
Matéria publicada na Edição Especial Revide Educação - 2011

Emoção de irmão




Posso ver suas lágrimas
E senti-las também correr por meus olhos,
Posso ver seu sorriso
E sentir em meus lábios, igualmente, essa alegria
Posso ver nos seus olhos a satisfação de viver
- e viver bem
- e viver de bem
- e viver!
Só isso já me faz feliz!

Cosmovisão Yorùbá


Finalmente Paulo Cesar Pereira de Oliveira, que tantos chamam de Pai Paulo, resolveu colocar no papel uma pequena gota do conhecimento e da sabedoria que acumulou ao longo de quase quatro décadas de vivência com grandes mestres e mestras da tradição Yorùbá, preservada no Brasil a despeito da violência cotidiana da hegemonia eurocêntrica que prevalece no país desde a sua ocupação no século 14.

Adepto inconteste da oralidade e suas técnicas de transmissão do saber, o autor cedeu ao imperialismo escriba por um motivo muito nobre, contribuir para a implementação da Lei 10.639, que determina a inclusão da história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos escolares.


Aprovada em janeiro de 2003, esta lei provocou uma corrida no mercado editorial para produzir materiais sobre a temática em questão. Entretanto, em sua maioria, na visão do autor, são produtos superficiais ou equivocados, que não contribuem efetivamente para uma nova pedagogia, que ajude a resgatar a educação nacional.


Desse esforço resultou o livro “Crônicas e Contos do Mestre Tolomi”, uma obra de contos considerada forte, profunda e ao mesmo tempo encantadora.


“Não é uma leitura para pessoas conformadas com a mediocridade e com as verdades estabelecidas. Muito pelo contrário, trata-se um livro para as pessoas insatisfeitas, que reconhecem e respeitam a diversidade da existência humana, e fazem questão de conhecê-la, sabendo que só assim terão a oportunidade de enxergar as possibilidades infinitas de transformação do status quo”, define o autor.


“Crônicas e Contos do Mestre Tolomi” é baseado na cosmovisão Yorùbá, cujos princípios, juntamente com as outras matrizes bantu e ewe fon, garantiram a sobrevivência dos afro-brasileiros a tantos séculos de ignomínia e opressão.


Na opinião do autor, quem se debruçar sobre este livro, o lerá uma, duas, três vezes, e sempre aprenderá algo novo, sobre humanidade, solidariedade, vivência comunitária, respeito ao meio ambiente e às diferenças, e muitos outros valores civilizatórios que podem transformar as pessoas em seres humanos melhores, e ao planeta também.


O livro é também uma oportunidade de aprender um pouquinho de Yorùbá, idioma falado por mais de 30 milhões de pessoas, na África, no Brasil e no mundo.


Leia a entrevista que fiz com "Pai Paulo" sobre o livro para o portal da Revide:
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

O que é cosmovisão Yorùbá?
É a visão de mundo e dos seres humanos a partir do pensamento yourubaia, com mais de seis mil anos revelado na África e que se propagou na diáspora. Onde esse povo chegou ela é mantida e preservada. Esses valores civilizatórios, contidos nessa visão de mundo, são a grande contribuição que o livro carrega.


O que o leitor de “Crônicas e Contos do Mestre Tolomi” pode esperar do livro?
O livro tem cinco contos que traduzem um pouco da cosmovisão Yorùbá. Um deles, “Ile ati Enyian” ou em português “A criação da Terra”, que dá  a visão Yorùbá sobre a criação dos seres humanos, outro conto fala sobre o destino dos humanos, “Aynmo”, é a escolha do destino, fala sobre a parte espiritual, “Oxum e o poder feminino” aborda uma discussão de gênero e comentando como se dá essa relação dentro da cultura Yorùbá. Através dos contos, o leitor vai conhecer um pouco da origem e do contexto da cultura Yorùbá.


Algum texto que deseje destacar da obra? Algo que goste em particular?
Tenho preferência por um conto “Macu”, que possibilita uma viagem por vários aspectos da cultura Yorùbá e, ao mesmo tempo, permite conhecer a história e a geografia da própria história da África.


Algo “contra” a escrita ou apenas muito “a favor” da oralidade?
O africano tem um conceito de que a palavra tem energia, tem força e é transmissora de energia vital, para ele, perde-se essa energia coma  escrita. Mas eu não tenho anda contra. Há um pensador africano chamado Hampate que diz assim: “A escrita não é o saber, a escrita é a fotografia do saber. Saber é algo que está em nós, como uma centelha divina, que nos possibilita saber que um Baobá existe, mesmo antes de conhecê-lo.”


O que o motivou a escrever “Crônicas e Contos do Mestre Tolomi”?
Um dos últimos livros que li, voltado para a temática  da inserção da história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos escolares. Era um livro totalmente comprometido historicamente e geograficamente e acabava reforçando os estereótipos mais do contribuindo para os desconstruir.  Sou ativista do movimento social negro, há décadas brigamos pela Lei 10.639 e hoje continuamos brigando, agora para que ela seja implementada corretamente. Falta material de apoio para esse ensino nas escolas. A academia não deu conta de transmitir isso aos professores, temos uma “enxurrada” de livros superficiais sobre o tema. Tem uma lei que obriga a ensinar, mas ao mesmo tempo não tem um corpo docente preparado. Isso me motivou a escrever


Qual a expectativa com relação aos reflexos de sua obra?
A expectativa é que ela provoque a discussão sobre duas matrizes de pensamento que estão instaladas nesse país, a matriz africana e a ocidental eurocêntrica, embora essa relação esteja hierarquizada. Daí a necessidade de se fazer uma lei para que esse pensamento adentre o espaço escola.

Dá vontade de ler o livro né...

(outubro de 2011)