19 de novembro de 2013

Esquenta!

Discordo da opinião de Marcos Sacramento, no artigo "O ESQUENTA" O programa mais racista da TV Brasileira (http://www.blogdomael.blog.br/2013/08/o-esquenta-o-programa-mais-racista-da.html), de que o mesmo ajude a construir um estereótipo racista. Acho, ainda, um desserviço transmitir essa leitura errônea do programa por meio das redes sociais, algo que só se presta a polemizar e não a esclarecer. Muitas pessoas, por certo, embasadas nessa leitura, serão induzidas ao erro de concordar com o autor. Afinal, há mesmo muitos negros no programa. Conforme descrito, há muitos "dançarinos com cabelos bizarros, moças de shorts minúsculos e prosódias vulgares que nunca serviriam de modelo para capas da Marie Claire ou da Claudia"... A análise, no entanto, a meu ver, parte do princípio errôneo de qualificar essas características. Ao contrário do autor, que afirma ser o 'ponto X da questão', o fato de O programa "reforçar o estereótipo dos negros brasileiros como indivíduos suburbanos, subempregados, mas ainda assim felizes, sempre com um sorriso no rosto, esquecendo-se das mazelas cotidianas por meio da dança, do remelexo, das rimas pobres do funk, do mau gosto de penteados e cortes de cabelo extravagantes", eu não me proponho — e acredito que seja justamente este o 'ponto x' do programa — a quaisquer julgamentos.Para quem já se dispôs — despretensiosamente — a assistir a mais de um programa, fazendo uso da consciência crítica, fica nítida a oportunidade — sem precedentes — que ele abre na programação aberta da televisão, especialmente da Rede Globo, de realmente colocar 'tudo junto e misturado', como deve ser, em qualquer democracia de fato e de direito. Me espanta, na verdade, a disposição com que o autor, que informa no texto ser negro (como para reforçar sua autoridade em criticar), coloca as revistas Cláudia e Marie Claire, a música clássica e os livros (em detrimento às relações sociais) como referenciais de comportamento. Dá um tiro certeiro no pé (a meu ver) o autor quando diz: "Sou negro e não sei sambar, não pinto meu cabelo de louro, não uso cordões, não ando gingando nem falo em dialeto". São justamente esse olhar preconceituoso, essa voracidade de julgamento, latentes, que têm conduzido o ser humano ao mais profundo distanciamento da unidade (da visão sistêmica) e, consequentemente, mais próximo do desequilíbrio, do colapso.
É preciso pró-agir, pois a re-ação, quase sempre, nos condena a comportamentos nocivos. Quem me lê, acredita, por certo, ser eu uma fã do programa Esquenta. Não! Na verdade assisti duas ou três edições, em partes, por casualidade. Há um pensamento predominante, típico da sociedade hipócrita, que associa o programa a algazarra, ao gueto, a vulgaridade, ao brega. E eu não pensava diferente disso. Ocorre que depois de ter me permitido ver e ouvir o que o programa tem a dizer, pude observar que ele vai justamente na contramão disso tudo. Cumpre o propósito bem definido de demonstrar que o diferente é apenas diferente, e nada mais. O fato de eu gostar de um tipo de música, de dança, de roupa, de expressão aetítica ou de comportamento social não me coloca em posição de julgar — inferior ou superior — outros tipos. Esse é o erro no artigo de Sacramento. Esse é o 'ponto' da questão. Está enganado o autor quando afirma: "E assim, aquela menina sentada no sofá vai continuar achando o máximo desfilar com pouca roupa e pelos das pernas pintados de loiros pela comunidade. Nunca vai pensar em aprender a falar alemão ou tentar entender os grafites de Banksy, da mesma forma que os rapazes nunca sonharão em trabalhar no Itamaraty e praticarão bullying contra os meninos polidos que não falam em dialeto e inventam de estudar violino, já que um programa televisivo de uma das principais emissoras do país legitima seu estilo de vida mal educado e de poucas perspectivas". Em primeiro lugar porque se coloca, indistintamente, na posição de juiz. Em segundo lugar porque faz diversos 'juízos de valores' equivocados. Em terceiro lugar porque propaga a desinformação. Chamar uma legítima expressão cultural de "estilo de vida mal educado e de poucas perspectivas', é olhar o mundo de um prisma muito particular e reduzido. Depois, nas oportunidades que tive de assistir ao programa, vi sempre colocadas - lado a lado - as diferenças (regras de etiqueta;orquestra sinfônica; música sertaneja, a 'poesia musicada' do Gabriel Pensador, etc), dando a qualquer telespectador a oportunidade de se identificar com o que melhor lhe aprouver. Penso que quando o ser humano parar de atribuir ao outro, a televisão, a educação, a escravidão, a colonização, a religião, etc, a responsabilidade pela sua evolução, pelas suas escolhas, pelo seu comportamento, pela sua Ação, por certo, viveremos num mundo melhor, repleto de pessoas que realmente saibam se respeitar e conviver harmoniosamente. Por fim, se "a dança, o remelexo, as rimas pobres do funk, o mau gosto de penteados e cortes de cabelo extravagantes", forem realmente capazes de fazer esquecer as mazelas cotidianas, de estampar sempre um sorriso no rosto e tornar as pessoas felizes, deveríamos TODOS repensar nossos costumes. 
Mentes e corações abertos para uma nova era de compreensão minha gente!!!
Abs
Yara