26 de abril de 2011

Íntimo e Pessoal_ uma visão particular



Imagino que toda pessoa deva ter uma resposta para a pergunta: qual filme você mais gostou de assistir?

É claro que a lista é longa e fica difícil escolher entre tantas boas opções que o cinema já produziu, mas um filme em particular deve tocar de forma especial a alma de cada pessoa, ao ponto de se tornar o número um de sua lista.

No meu caso, é Up Close an Personal (Íntimo e Pessoal) um romance lançado nos EUA em 1996. O filme foi baseado na biografia "Golden Girl", da escritora Alana Nash, que conta a história real da jornalista americana Jessica Savith, que morreu vítima de um acidente de carro, no auge da carreira.

Dirigido por Jon Avnet - diretor também do filme Tomates Verdes Fritos - e com roteiro de Joan Didion e John Gregory Dune, o longa traz no elenco Michelle Pfeiffer e Robert Redford vivendo o casal de jornalistas Sally Atwater e Warren Justice.

A história é bem simples (como tudo na vida): garota de cidade pequena quer mudar seu destino e ser uma jornalista famosa. Mas não vamos simplificar tanto assim... O filme é lindo. Faz repensar a vida e renova a esperança de mudar o destino e realizar os mais íntimos sonhos... Fala de amor, de coragem e de caráter. Faz refletir sobre a necessidade de seguir adiante, aprender com todos os ensinamentos e as oportunidades que a vida oferece e não deixar escapar duas coisas essenciais: amor e verdade.

O drama-romântico é uma mistura bem elaborada de aspectos técnicos, textuais, visuais e sonoros. Desde a seleção dos atores - Michelle Pfeifer e Robert Redfort identificaram-se com as personagens formando um par cúmplice e cativante -, até a escolha das músicas - o filme ganhou o Oscar de melhor canção com "Because You Loved Me"-, em tudo se procura de forma simples, bela e sensível transmitir ao público a mensagem de renovação.

Para mim, o ponto alto da obra é a maneira sutil como lida com a vaidade humana e retrata a busca incansável pelo sucesso e pela felicidade no amor.

O filme se utiliza de muitas metáforas, até pelo gênero, trabalhando o sentido das palavras para insinuar o contexto. Alguns exemplos são quando Warren se refere Tally comentando que “ela devora as lentes”, preanunciando sua competência e sucesso, ou quando diz a ela que “não é boa companhia de manhã” para alertar que não era bom com relacionamentos. Mas a metáfora de maior profundidade do filme é a que se refere ao verdadeiro valor de um jornalista, “o que nós dos noticiários não podemos nos esquecer é que valemos pelas histórias que contamos”.

As personagens de Warren e Tally foram construídas sobre um estereótipo do jornalista televisivo como alguém muito preocupado com a imagem e pouco com a mensagem, com a finalidade de transmitir a milhões de telespectadores um fato que, embora possa não lhe interessar, influencia positiva ou negativamente sua vida.

Warren é um jornalista íntegro, honrado, idealista, comprometido e sério e que, por isso mesmo, é considerado difícil, intratável e tem uma carreira “espinhosa”. (Uma particularidade: este papel interpretado por Robert Redford, muito se assemelha a sua personalidade. O ator, assim como a personagem, é considerado em seu meio uma pessoa difícil, que só faz as coisas a sua maneira).

Tally, por outro lado, é uma mulher sensível e batalhadora, com uma personalidade também forte, porém cativante. A construção de sua identidade se dá ao longo do filme, permitindo ao público refletir sobre como uma inexperiente repórter, se bem orientada, pode tornar-se uma excelente jornalista. Tally sempre muito preocupada em aparecer no início, se vê de repente sendo rejeitada pelo público, arrasada pela âncora rival que a expõe ao ridículo em determinadas situações, balançando sua auto-estima e estremecendo sua carreira, até que Warren a ajuda a enxergar: “Dê-lhes Tally Atwater, diz ele. Onde está Tally Atwater? Para conquistar a confiança de milhões de telespectadores você precisa ouvir o que eles dizem”. E Tally finalmente entende qual o significado de ser uma repórter e surpreende realizando sozinha uma grande matéria e conquistando o mais alto posto de uma carreira jornalística.

Um aspecto de grande beleza formal na obra, para mim, está na cena em que Tally decide improvisar, ao invés de seguir o que estava escrito no telepronter, no momento de seus agradecimentos. E falando com a voz do coração, libertando-se dos padrões e tomando definitivamente posse de si mesma, agradece a quem realmente é digno de aplausos. “Eu só estou aqui para contar uma história”, encerra.

Em Íntimo e Pessoal, a idéia por trás do romance das personagens Tally Atwater e Warren Justice, parece ser a de demonstrar ao grande público a fragilidade humana. Utilizando-se do enredo amoroso, o autor parece denunciar, na exposição do cotidiano das personagens, a grande luta de todos nós contra nossas próprias fraquezas e mazelas. Em seguida, busca demonstrar a necessidade de se ter esperança, determinação e caráter.

“Contando a história do casal de jornalistas", o autor propõe uma reflexão mais profunda da ética jornalística. E o mais interessante de tudo... Através do filme, ele diz exatamente o que suas personagens vivenciavam: que ele (o autor) esta alí, fazendo esse filme, para "contar uma história"... E, quem sabe, oferecer ao público uma nova nuance dos fatos para reflexão...

MAIS SOBRE A OBRA

Influências e antecedentes da obra
Em 1988 Dunne e Didion foram contratados pela Disney para escrever um roteiro sobre Jessica Savitch, uma jornalista nova, cuja carreira foi interrompida pelo abuso de álcool e um acidente fatal de carro. Assim nasceu Íntimo e Pessoal, que teve como influência a biografia "Golden Girl", da jornalista e escritora Alanna Nash, que narra no livro a história verdadeira de uma jornalista americana que conquistou as telas e a simpatia do público para depois perdê-la na bebida, terminando morta aos 36 anos em um acidente de carro. Particularidade: Em uma discussão do projeto, Jeffrey Katzenberg, chefe da Disney, levantou a questão da morte de Savitch no fim do filme. "O que estará neste retrato que fará o público sair do sentimento "réplica" e refletir?”, pediu. O final é surpreendente.

Sobre os roteiristas
Joan Didion foi novelista, ensaísta e escritora freelancer por mais de três décadas, trabalhou como editora na Vogue antes de transformar-se em uma escritora conhecida por seu ponto de vista da política e da cultura americana. Recebeu uma medalha em 1996 de Edward MacDowell e a concessão em 1999 do journalism de Colômbiaé. As coleções de seus ensaios incluem Slouching para Bethlehem (1968) e o Album branco (1979). Casou-se em 1964 com John Gregory Dunne, com quem dividiu a autoria de artigos, roteiros e colunas. John Gregory Dunne, nascido em maio de 1932 e morto em dezembro de 2003, aos 71 anos, é definido em páginas memoriais na internet como um jornalista e novelista que compartilhou com a esposa Joan Didion o fascínio pela película. John Gregory Dunne e sua esposa Joan Didion eram considerados o par literário mais quente dos Estados Unidos.

Avaliações críticas/ Premiações
Nos EUA: Leonard Maltin, por exemplo, chama a atenção para as boas performances de Robert Redford e Michelle Pfeiffer, "que sustentam o filme." Para Mick Martin e Marsha Porter o que faz dessa uma bela história de amor é o fato de ter sido filmada à moda antiga de Hollywood. No Brasil: Segundo Rubens Ewald Filho, por exemplo, Robert Redford "mexeu tanto no roteiro que acabou transformando o filme numa banal história de amor, com a heroína muito mais suavizada, sentimental e pseudo-sofisticada." Para a equipe do guia NOVA CULTURAL "o bom diretor Avnet compromete o roteiro ao escorregar muitas vezes na pieguice. Pfeiffer é perfeita para o papel . Os mais românticos devem aprovar o resultado."(www.2001video.com.br) Íntimo e Pessoal recebeu uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Canção Original ("Because You Loved Me"). Recebeu também uma indicação ao Globo de Ouro, na categoria de Melhor Canção Original ("Because You Loved Me"). E ganhou o Grammy na categoria de Melhor Canção Composta Especialmente Para um Filme ("Because You Loved Me").

Postado em 25 de Fevereiro de 2011 às 16:02 na categoria Arquivo Y do blog Retalhos

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