27 de abril de 2011

Instante...

Erro, acerto. Caio, levanto. Xingo, reclamo. Abraço, beijo, amo. Faço o que posso. Se esticar demais não alcanço e as coisas pequenas também compõem as grandes!

26 de abril de 2011

Carta a uma colega de profissão


Sobre erros e acertos

Existem erros indesculpáveis, mas nenhum é imperdoável. Ou estaríamos todos condenados a uma existência mísera, improdutiva e inerte.

Onde estariam a justiça e a misericórdia Divina se os homens não pudessem recomeçar, reconstruir, refazer, remodelar, readequar, reaprender? Onde estaríamos eu e você, que cometemos erros desde a infância, se não houvesse pelo caminho quem nos tivesse dado outra oportunidade? Quem tivesse acreditado em nossa mudança e nos proporcionado novas chances para nos redimir e evoluir?

Certa vez, quando ainda cursava o antigo ginásio, me envolvi com a política estudantil. Muito mais influenciada por meu pai do que propriamente ávida por ocupar qualquer cargo, mas na verdade acabei “embarcando” na idéia, me divertindo em fazer campanha e, por fim, me elegendo como presidente da chapa  intitulada “Reconstrução”. Uma loucura da qual tenho poucas lembranças. Mas o que mais me marcou, realmente, foi o que se seguiu.

Pouco tempo depois de eleita fui apanhada “colando” em uma prova de História. Uma vergonha! Um despropósito” Um descalabro! A representante maior dos estudantes cometendo tamanha desfaçatez. Meu mundo desabou... Podem imaginar o “buxixo”. Pior foi o desapontamento de meu pai, que para me ensinar uma lição, fez com que eu pedisse à professora para refazer o teste, só que desta vez como prova oral.

Me lembro da sensação de orgulho de mim mesma, por ter conseguido um "A" sem precisar colar, apagada pela vergonha de estar ali em pé diante da classe, me desculpando por ter optado pelo caminho mais fácil quando tinha capacidade de realizar o correto e, acima de tudo,  quando deveria ser um exemplo de conduta para todos os alunos...

(Essa questão do exemplo aflige, ainda mais quando se é mãe, pois constantemente somos colocados à prova e, frequentemente, nos sentimos traídos por nós mesmos.)

Mas assim como esse episódio houveram outros pelo caminho. Certa vez, fuçando nas coisas de meu pai em seu escritório apertei o botão de um gravador e depois não soube desligar. Chamei meu irmão mais velho para ajudar e achei que tudo ficara resolvido. Detalhe: havia apertado o “REC”. E com tudo ali, gravado, não restou outra alternativa para meu pai senão me obrigar a escrever um caderno inteiro de caligrafia com a frase: “Não devo mexer nas coisas dos outros.”

Essas lembranças me marcaram e, ao mesmo tempo, deixaram algo bom: um norte a seguir na vida. Assim, embora muitas vezes ainda escorregue nas lições aprendidas, afinal sou um ser humano e não uma máquina, ainda assim, procuro ser um exemplo de boas atitudes, para mim mesma antes de tudo. Até porque, pior do que a figura de meu pai me corrigindo é a voz da minha própria consciência me cobrando.

Agora imaginem outra situação. Se a professora não tivesse me dado a oportunidade de refazer a prova, para tentar ao menos redimir meu erro, o que eu teria aprendido? Poderia ter reprovado aquele ano ou recuperado a nota nas próximas provas, seja como for, com o tempo eu esqueceria, a professora e os alunos também e tudo não passaria de mais uma “travessura de criança”.

Seria, portanto, muito natural para mim, hoje, aceitar e conviver com as notícias de corrupção que escandalizam quem tem brio, afinal, eu teria passado incólume pelo desvio de caráter. Felizmente, tive quem soubesse me conduzir ao verdadeiro vexame de meu ato e quem tivesse me permito submergir dele alguém um pouco melhor.

Tudo bem que naquela época ainda podia ser considerada uma criança, mas não há desculpa para o que é errado, seja qual for a etapa da vida. É importante destacar nossos erros sempre, de alguma forma, para que eles não se tornem o destaque de nossa existência.

Também é preciso perdoar quem erra e dar-lhe nova oportunidade para se testar, se corrigir, se redimir e evoluir. Isso por uma razão muito simples: ninguém é perfeito, e se nunca errou, nem está errando nesse momento, ainda vai errar um dia e, portanto, vai precisar do perdão de alguém. Mas a vida se encarrega disso...

Eu, cá com meus botões, continuo aprendendo. Constantemente a vida impõe situações para testar meu discernimento sobre os erros e os acertos – tanto os meus como os dos outros -, mas posso apenas responder por mim. Às vezes passo no teste, outras vezes sou reprovada.

É assim que funciona. Uma hora a gente se orgulha outra hora se envergonha. Uma hora a gente chora outra a gente sorri.

Só há uma alternativa...  Continuar caminhando!

Postado em 26 de Abril de 2011 às 15:04 na categoria Pausa e Ponto do blog Retalhos

Novos métodos contra a dor




A dor é um sistema de alarme, como a febre, tem a função de indicar que o corpo não está bem. Mas, muitas vezes, este alarme dispara sem necessidade. Avanços científicos provam ser possível e recomendável evitar que o corpo utilize esta verdadeira “arma” contra ele mesmo



Quase um fonema. São apenas três letras que compõem uma palavra com significado de conhecimento geral: dor.

Apesar da aparente simplicidade e da inerência ao homem, nos dias atuais a dor constitui, mais do que um sintoma, um conceito complexo a ser avaliado multidisciplinariamente para ser evitado.

O avanço nos estudos de percepção da dor mostra a necessidade de se instituir, na prática clínica, tudo o que já foi descoberto e que pode contribuir para que as pessoas sofram menos, pois ainda existem profissionais de saúde que subestimam a dor do paciente.

Segundo o coordenador da Liga de Dor de Ribeirão Preto (Lidorp) e docente da faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (USP-RP), José Geraldo Speciali, o conceito de dor é antigo e errado. “Muitas vezes, a dor persiste mesmo após curada a doença. Hoje, sabemos que isso tem um fundamento neurológico. A chamada dor neuropática precisa ser divulgada. Ninguém mais pode ser obrigado a sentir dor. Há armas suficientes para que isso não aconteça”, afirma Speciali. 
Um paradigma que deve ser abolido é o da compreensão da dor como uma especialidade médica. Praticamente todos os médicos e profissionais da saúde podem e devem estar envolvidos no manuseio da dor.

O conceito de que a dor deve ser combatida com uma abordagem multidisciplinar surgiu nos Estados Unidos por volta de 1940. No entanto, para que se torne uma realidade no mundo, ainda há muitas atitudes a serem mudadas. “Um dos aspectos mais importantes a se compreender no tratamento clínico da dor é que a cura depende de um conjunto de pessoas. Cada ser humano percebe a dor de maneira diversa, por isso, existe a necessidade de se descobrir qual é a sua origem. Só a compreensão social do problema possibilitará a efetiva cura”, explica Sérgio Henrique Ferreira, farmacólogo permissionário do Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina da USP-RP.

Na avaliação do coordenador da Lidorp, o profissional da saúde, seja ele médico ou não, preocupa-se em 1º lugar em curar a doença. Embora lógico, o raciocínio de que cessando a causa desaparece o sintoma, o enfoque dos novos estudos defende que o tratamento da doença e da dor sejam feitos ao mesmo tempo, evitando a espera de dias, meses ou até anos para que a dor seja curada.

Nas reuniões da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED), filiada à International Association for the Study of Pain (IASP), são discutidos aspectos físicos e emocionais da dor, além de outras variáveis que também exercem influência como crenças e religiões. Conhecer esses estudos, na opinião de Speciali, constitui o melhor caminho para o profissional que pretende compreender a dor física, em seus mínimos detalhes, e ampliar as opções de tratamentos.

Tipos de dores
Entre as dores mais comuns estão as cefaléias (dores de cabeça), a lombalgia (dores nas costas) e a dor de dente. A última, em função do franco desenvolvimento da odontologia preventiva, deve se tornar cada vez menos freqüente. Entre todas, qual será a dor mais sofrida? Qual será a mais doída: a de uma pessoa que está correndo e sente dor no peito ou a de uma que torce o pé?
Para responder às perguntas, deve-se considerar a preocupação, a angustia e a ansiedade do paciente, associados à possibilidade de infarto que a dor no peito gera, o que a torna mais sofrida. Todas as nuances da interação psicofísica devem ser consideradas na análise da dor. A dor do câncer, por exemplo, acompanhada da certeza da morte e da separação da família, torna o sofrimento do paciente terminal muito maior, enquanto a dor do parto, uma das mais agudas que existem, por estar associada à alegria do nascimento de um filho, torna-se suportável a ponto da mãe desejar engravidar novamente. Abordar a dor mediante parâmetros físicos, emocionais, morais e sociais constitui a melhor maneira de qualificá-la.

Avaliações e Medidas
Ao lado de sua equipe, a pesquisadora da USP de Ribeirão Preto Fátima Faleiros Sousa, também editora da revista Dor: Pesquisa Clínica e Terapêutica (órgão oficial da SBED), elaborou um inventário que inseriu o Brasil no cenário mundial de avaliação e medida da dor. O trabalho pioneiro levou mais de dez anos para ser validado cientificamente. Contém 119 descritores para dor aguda e 119 para dor crônica.

“Iniciamos esse inventário tendo em torno de 500 descritores de dor utilizados, não só pela comunidade nacional, mas pela internacional também. Utilizamos métodos rigorosos para validar esse instrumento. Hoje, ele já pode ser implantado no país para mensurar não só a dimensão sensitiva da dor, que é muito mais complexa. São escalas que avaliam aspectos de emoções, de afeto e de cognição a que a dor está relacionada”, justifica a pesquisadora.

O inventário foi aceito pela Sociedade Portuguesa de Dor como referência para a implantação do quinto sinal vital nas instituições de saúde, junto com as já preconizadas avaliações da temperatura, pulso, respiração e pressão arterial. O somatório desses indicadores, objetivos e subjetivos, propicia uma avaliação mais precisa da dor de cada indivíduo, considerando-a como descrita por quem sente o sintoma.

Tratamentos
Há vários procedimentos para o tratamento da dor neuropática: vias oral, local ou através de bloqueios. A grande novidade, ainda desconhecida de muitos profissionais da saúde, são tratamentos não-invasivos (com medicação) que combatem dores com antidepressivos, antiepiléticos e remédios para relaxamento muscular. Estudos mais aprofundados acerca da ação de medicamentos analgésicos também são ferramentas comuns no combate à dor.

Há 20 anos, o farmacólogo Sérgio Ferreira estuda a atuação de drogas do tipo dipirona no organismo. O especialista descobriu que a droga forma óxido nítrico nos neurônios sensoriais, o que bloqueia diretamente a sensibilização, prevenindo a dor. “A célula normalmente fica em estado de repouso instável. Quando se toma a dipirona ela fica estável”, explica Ferreira. A descoberta do mecanismo torna possível a fabricação de novos medicamentos sem efeitos colaterais. Existem muitas plantas no Brasil com efeitos semelhantes aos da dipirona que podem ser utilizadas para esse fim. A partir das descobertas, torna-se indispensável a participação de empresas com potencial e interesse para industrializar os resultados.
Bebês também sofrem

Se antes era uma pergunta, hoje se tornou uma afirmação. Bebês sentem dor. Instrumentos validados cientificamente para análise facial confirmam: franzimento de sobrancelha, olho espremido, suco naso-bucal, boca na horizontal ou vertical e protrusão (crescimento anormal) de língua são expressões de dor.

Na primeira semana de vida, o bebê exposto a procedimentos dolorosos já apresenta sinais de condicionamento. Há relatos na literatura médica de aceleração dos batimentos cardíacos quando o bebê sente passar o algodão com álcool para a enfermagem fazer a coleta de sangue, o que comprova que, além de sentir dor, o bebê ainda sofre por antecipação.

A docente do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da USP-RP, Maria Beatriz Martins Linhares, estuda o desenvolvimento de bebês prematuros, que sofrem diariamente a rotina de cerca de seis procedimentos invasivos dolorosos na UTI Neonatal. Em pesquisa coordenada por Maria Beatriz, recém-publicada pela revista Pain (IASP), foi avaliado o efeito “opióide” (de amortecimento) do uso contínuo de doses de sacarose em bebês prematuros. Houve eficácia para alívio de dor sem efeitos colaterais clínicos.

“Para saber qual o impacto que a dor tem no desenvolvimento do bebê, primeiro deve-se avaliar e intervir no processo doloroso, oferecendo alívio, depois entender o mecanismo de relação da dor com o comportamento”, afirma Linhares. Uma característica comportamental encontrada nas crianças pesquisadas foi a dificuldade de filtrar os estímulos externos, tornando-as mais propensas a desenvolver problemas de irritabilidade e agitação. Para a pesquisadora, lidar com a dor exige instrumentos validados de avaliação, boas intervenções e seleção clara de evidência científica para não se basear em “achismos”. O grande desafio, na opinião dos pesquisadores, está na transferência do conhecimento para a prática clínica.

Matéria publicada na edição 398 da Revide - em 18 de abril de 2008.

Postado em 25 de Abril de 2011 às 16:04 na categoria Arquivo Y do blog Retalhos

Apenas um instante

Já imaginou que nesse exato instante, enquanto você lê esse texto, há muita coisa acontecendo...
Uma criança nascendo, um casal se beijando, uma pessoa morrendo
Alguém tomando um café ou comendo uma bolacha
Amigos rindo das histórias da vida...
Tem alguém brigando feio, outros apenas discutindo
Tem uma semente germinando sob a terra ou uma flor desabrochando para o mundo
Um animal de estimação deitado em casa outro selvagem correndo no mato
Um pássaro cantando sem ninguém ouvindo...
Tem uma, duas , muitas crianças brincando e outras doentinhas na cama
Tem alguém dizendo “Eu te amo” para outra pessoa
Alguém sonhando com um carro, uma casa, uma viagem...
Um idoso caminhando, alguém na estrada, no ônibus ou no avião
Tem alguém mastigando um pedaço de pão, de carne, de doce ou macarrão
Tem gente trabalhando, tem gente dormindo...
Tem gente maldizendo, matando ou mentindo...
Tem gente doando, se entregando ou refletindo...
Tem gente chorando e tem gente sorrindo
Tanta coisa acontecendo, e eu e você nem ai, nem sentindo...
Que tal parar um instante e sair da bolha?
Observar em volta com olhos vastos...
Sentir os outros com imensidão...
E nos integrar ao mundo de corpo, alma, mente e coração!

15.04.2011

Postado em 15 de Abril de 2011 às 14:04 na categoria Pausa e Ponto do blog Retalhos

A cultura que enriquece o Brasil

Essa matéria é sobre a comemoração do centenário da imigração japonesa no Brasil. Escrevi para a edição 393 da Revide, em 14 de março de 2008, e foi minha primeira matéria especial. Sinto orgulho dela. Agradeço aos entrevistados e a revista, pela oportunidade de escrever sobre um tema tão rico. Espero que gostem desse post "flashback".

“Às 9h30 do dia 18 de junho de 1908, o Navio Kasato Maru atracou no porto de Santos trazendo a bordo 165 famílias com 733 membros e mais 48 avulsos, além de 12 viajantes livres. Foram 52 dias de viagem a partir de Kobe e agora estavam diante do continente Sul-Americano. Cheios de esperança e inquietação diante do desconhecido...”

Porte pequeno. Estatura baixa, pouco peso, cabelos lisos e olhos rasgados. Inteligência, criatividade e competitividade. Respeito à instituição “família”, cultivo de tradições e preservação da honra. Assim se resume a natureza da raça japonesa. Um pouco desta essência pode ser vista sem a necessidade de se cruzar o ar ou o mar. No trabalho, na escola, no clube ou nas ruas do Brasil, é possível ver e conviver com o Japão.

Apesar de não constituírem uma das três raças formadoras do povo brasileiro (branca, indígena e negra), os japoneses vieram motivados pelo mesmo sentimento que move o país: a esperança. Milhares de “isseis”, primeira geração de imigrantes, cruzaram oceanos na tentativa de mudar seus destinos e chegaram cheios de marcas e sonhos.

Junto com portugueses, índios, africanos, italianos, espanhóis, árabes, chineses, alemães, entre outros povos, os isseis, nisseis, sanseis, yonseis e gosseis formam a nação. A modelo da capa desta edição, Tatiane Yamamura Sakamoto, 20 anos, estudante, é neta de imigrantes e espelha toda beleza da cultura e das tradições japonesas. (continua...)

Três histórias
Lembranças do artista - Dez da manhã. Shozo Mishima abre a porta de seu apartamento no Jardim Paulistano. As paredes repletas de quadros e as esculturas em madeira espalhadas na mesa de canto e no chão denunciam: ali vive um artista. Aos 81 anos, o nissei, que diz viver pela arte e adora shitake na manteiga, ainda sonha em morar na Europa. Guarda muitas lembranças da infância na fazenda onde os pais se instalaram ao chegar ao Brasil, em março de 1927.

Sendo a única família japonesa no local, com vizinhos negros e contato apenas esporádico com descendentes ao longo de quase vinte anos, Mishima não se faz de rogado ao afirmar, em tom baixo e pausado, “sou brasileiro”. “Meu pai tinha espírito aventureiro. Com apenas 18 anos resolveu se mudar para o Brasil. Ele trouxe minha mãe e meu tio, mais braços para o trabalho”, narra o artista.

Sedento por conversar, Mishima san (“san” tem o mesmo sentido de “senhor” e se aplica depois do nome) se levanta várias vezes do sofá para mostrar fotos, pinturas, esculturas, livros e seus “bonsais”, cultivados próximos à janela da lavanderia. Viúvo de uma brasileira, relembra momentos difíceis vividos durante o período de guerra, quando os imigrantes foram proibidos de falar japonês. “A integração cultural entre os dois países demorou mais por causa da guerra. A maior aceitação dos imigrantes só aconteceu quando as latinas começaram a namorar japoneses. Hoje, nossa cultura e culinária são comuns”, explica Mishima.

A filha do fotógrafo - Rodeada de máquinas fotográficas antigas, com um quadro ao fundo onde se lê “Pioneiro na Reportagem Social” e trazendo nas mãos o livro fotográfico do pai, “Ribeirão Preto pelo olhar de Tony Miyasaka”, a arquiteta de 43 anos, Elza Luli Miyasaka, não nega as origens.
Elza conta que o pai veio para o Brasil em 1934, aos dois anos. A decisão de emigrar foi da avó. Consolidada em terras brasileiras, a família nunca pensou em voltar a viver no Japão. “A maioria dos imigrantes veio pensando em ganhar dinheiro e voltar. No caso dos meus avós não foi assim”, relembra Elza.

Na cultura japonesa, o respeito à hierarquia e à honra da família são fundamentais. Um bom exemplo foi o início do envolvimento da família Miyasaka com a profissão de fotógrafo. Já no Brasil, o irmão mais velho de Tony, Takeshi, foi trabalhar em uma loja de fotografia. “O combinado era que ele ficaria dois anos trabalhando no lugar para aprender a profissão. Quando voltou dizendo que já havia aprendido e que poderia começar o próprio negócio, meu avô ordenou, em sinal de gratidão, que voltasse e ficasse mais dois anos na loja. Foi o que ele fez”, conta a arquiteta.

Dos costumes japoneses, um rigorosamente seguido na casa de Elza é comer Ozoni no primeiro dia do ano. A tradição de preparar o bolinho de moti (arroz) está repleta de simbologismo.

Documentário da imigração - O produtor Hossame Nakamura finaliza um documentário sobre a imigração japonesa na região de Ribeirão Preto, que deverá ser exibido nas festividades da comemoração do centenário, no dia 19 de junho. “A região recebeu os primeiros imigrantes. Depois, pelas más condições nas fazendas, eles se espalharam”, explica o produtor.
A história de seu avô, que desembarcou no Brasil em 1926, não se diferencia da vivida pela maioria. “Meu avô plantou algodão, hortaliça, milho, arroz, batata. Mais tarde, foi para Curitiba, onde constituiu família. Meu pai se tornou militar, moramos em muitas cidades e acabamos, por coincidência, voltando às origens”, conta Hossame.

Para o sansei, que se auto-denomina praticamente um “gaijin” (não-japonês), a síntese da imigração japonesa no Brasil está na miscigenação. Ele acredita que quebrar estereótipos seja a principal função da comemoração do centenário da imigração. “Existem muitas publicações a respeito da identidade japonesa, mas as perguntas a serem feitas devem ser: ‘O que é ser japonês? E o que é ser japonês no Brasil?’ O documentário mostra minha verdadeira identidade como descendente dos imigrantes”, argumenta.

Segundo Hossame, a diferença do processo de imigração japonesa foi a barreira imposta pela língua, que estabeleceu comportamentos de grupo. “Muitos viviam o Japão dentro do Brasil”, explica. Além disso, o japonês tem como característica própria abdicar de sua individualidade em prol do processo coletivo. “Durante o ano inteiro, há eventos da comunidade japonesa. Se você está disposto a se envolver, não fica em casa nos finais de semana”, brinca o produtor.

Caminho
No Templo Budista de Ribeirão Preto, chamado Tohoku Nambei Honganji, a ampulheta parece parar. O jardim com espécies naturais do Japão, o leve burburinho de água correndo, o canto dos pássaros e a arquitetura do templo transformam a atmosfera, remetendo à imagem cristalizada de um Japão sábio, paciente e silencioso.

Trajando um “kane” (espécie de roupão) com “kesa” dourado (faixa sobre o pescoço) e levando um “nenju” (rosário) no pulso, o monge Tadao Sawanaka nos recebe com um curto “bom dia” com forte sotaque japonês. Em tom de lamento, explica que os templos no Japão são abertos, para que as pessoas entrem e rezem a qualquer hora do dia. Aqui, no entanto, um portão de ferro com cadeado se põe entre o altar e os visitantes.

Tadao nasceu no Japão e veio para o Brasil em 1957, quando tinha 19 anos. Sem saber explicar a razão, diz que já viajou com a intenção de ficar. Aportou em Santos e acabou morando em Barretos, onde trabalhou como tratorista, sem entender o que a palavra significava. Aos 26 anos, começou a freqüentar o templo ribeirãopretano, que dirige há 10 anos, mesmo sem nunca ter pensado em se tornar um monge. Ele aproveita os finais de semana para visitar a família, que ainda mora em Barretos.

Desmistificando a idéia de que viva uma rotina repleta de rituais, Tadao afirma, trocando o “eu” por “a gente” no português, que leva uma vida normal. “A gente vive normal, igual vocês, a gente de manhã e de tarde reza, outras coisas igual vocês”, relata o monge.

Tímido, aos poucos o tadao se sente à vontade para mostrar a escrita japonesa. A dificuldade com a língua portuguesa foi o maior desafio enfrentado por ele. Apesar das falhas, fala, lê e escreve em português.

Sorridente, afirma já ter visto muitos adesivos escritos em japonês em que as palavras estão de cabeça para baixo ou pela metade. Para mostrar como se escreve em sua língua, pega o “suzuri” (pequena caixa), onde antigamente esfregavam o “sumi” (pedra de carvão) na água para fazer tinta. Segurando o “fude” (pincel) da maneira correta, em pé, escreve, como se desenhasse, a palavra “do”, que em japonês significa caminho (ou estrada) e possui grande importância para seu povo.

Do país de origem, o monge sente saudade de se reunir uma vez por ano com os colegas de escola. A principal diferença entre os dois povos, para Tadao, está na alegria do brasileiro, que contrasta com a seriedade do japonês. Na previsão do monge, daqui a 100 anos, tanto os aspectos culturais quanto os traços físicos das novas gerações de descendentes, serão perdidos. “É uma pena, mas acho muito difícil mudar esse caminho”, opina.

Centenário
A comunidade nipônica ribeirãopretana se reúne em duas associações distintas, que realizam atividades diversas relacionadas à cultura japonesa. Na Associação Cultural, presidida por Massaro Fugiy, os integrantes praticam Bon Odori (uma dança folclórica ao som de tambores), além de participarem de campeonatos de Karaokê. Na Associação Nipo, presidida por Teruo Abe, além da realização de gincanas e festas, pratica-se o Taikô (percussão japonesa). Anualmente, as associações se unem para a realização do conhecido Festival Tanabata, promovido em junho.

Para os presidentes das duas associações, transmitir a cultura japonesa, que vem de uma nação com 14 eras de história, para as novas gerações, é fundamental. Para as comemorações do centenário da imigração, as duas associações criaram a Comissão das Festividades do Centenário da Imigração Japonesa na região de Ribeirão Preto, presidida por Satoru Hojo. “Cem anos não são cem dias, precisam ser comemorados”, diz Satoru.

De acordo com o presidente, Ribeirão Preto possui cerca de cem “isseis”, que serão recepcionados com um almoço especial no dia 19 de junho. Uma enorme perda cultural identificada pelo presidente da comissão é a da língua. “Tentamos evitar o ‘analfabetismo japonês’ nas novas gerações, mas sem grande sucesso”, lamenta.

A arte do Taikô
Tradicional percussão japonesa, o Taikô se refere tanto à música produzida pelos tambores quanto aos instrumentos em si. Os taikôs, que são encontrados em diversas formas e tamanhos, já foram considerados um dos símbolos da comunidade rural japonesa, pois se dizia que o limite da aldeia era determinado também pela distância em que o som da batida era ouvido. A partir da década de 70, o instrumento se tornou mundialmente conhecido. Normalmente, o taikô pode ser visto em cerimônias religiosas, festividades, em academias de artes marciais e shows artísticos.

Em Ribeirão Preto, cerca de 30 pessoas de todas as idades integram o Grupo de Taikô Yukio Yamashita, formado em janeiro de 2004 através da parceria das associações Cultural e Nipo. O grupo atua coordenado por Massaro Fugiy, Otávio Nakajima, Ênio Uyeta e Paulo Nonaka. “A finalidade do Taikô é promover a integração de jovens e crianças, preservar a tradição e divulgar a cultura japonesa através desta arte, intimamente ligada ao desenvolvimento do espírito de equipe, disciplina, perseverança e harmonia”, afirma Massaro.

Todos os anos acontece um campeonato brasileiro, dividido em 3 categorias: Júnior, Livre e Master. Ribeirão Preto já conquistou o 3º lugar na categoria Livre em 2005 e 4º lugar na categoria Júnior nos anos de 2006 e 2007. Para Ênio Uyeta, a atividade promove a socialização dos jovens e emociona o público. “Quando nos apresentamos, surpreendemos as pessoas. No Taikô, as batidas marcam o ritmo do coração e transmitem este sentimento”, orgulha-se Ênio.

Judô
O professor de educação física Marcelo Irono começou a aprender a arte marcial aos três anos por iniciativa do avô, que contratou um mestre para toda a família. Aos 13 anos, Marcelo já dava aulas. Praticado em quase todo o mundo, o judô ensina a importância de ceder ao invés de medir forças. “No judô, a flexibilidade é usada para ganhar da força. O ensinamento se aplica a tudo na vida. É possível perceber que, cedendo, conquistamos muito mais do que brigando”, afirma Marcelo.
Outro benefício das artes marciais são os valores que elas ensinam, como respeito, disciplina, hierarquia, noções de socialização e higiene, além da importância de palavras como “obrigado” e “bom dia”. “Existe um ritual de cumprimento entre aluno e professor. Entre ambos, há um profundo respeito”, ressalta Marcelo. O professor afirma que a comercialização do esporte desvirtuou sua função social. “O clima de competição deturpou a beleza do esporte”, lamenta.

Bonsai
Mesmo não sendo japonês, Helenir Cândido conquistou o respeito da comunidade nipônica por seu trabalho com bonsai. A palavra “bon” significa vaso e “sai”, árvore. Helenir conta que foi por causa de uma reportagem que resolveu miniaturizar árvores. O começo foi muito difícil pela falta de informações. “Praticamente matei árvores durante cinco anos”, brinca.

O processo, no entanto, não é tão complicado. Se os passos básicos forem seguidos, o bonsai dura a vida inteira. Adubação uma vez por mês, poda dos galhos a cada três ou quatro meses, replantio a cada dois anos, exposição ao sol por meio período e água diariamente são as recomendações do profissional.
Os bonsais mais tradicionais são o pinheiro negro japonês e as figueiras. Os mais procurados, geralmente, são plantas que dão flores e frutos. Por demorarem a produzir frutos, os bonsais frutíferos possuem elevado valor de mercado. Para Helenir, o bonsai modifica o comportamento. “Durante os primeiros 10 anos, apanhamos da planta. Depois que erramos bastante, ela começa a falar de uma maneira silenciosa, pedindo o que precisa. O bonsai educa o cultivador, aguça sua percepção e o torna mais sensível”, explica o bonsaísta.

Qualquer tipo de prática da cultura japonesa se baseia na paciência, perseverança e respeito ao professor e às tradições. Assim, seja qual for a porta de entrada para esta cultura, as artes (como origami, ikebana, bonsai, taikô, judô), a culinária ou a religião, quem a conhece certamente alcança um ponto comum de harmonia e compreensão diferenciada do mundo.

LIVROS
Obras que abordam a história da imigração e da cultura japonesas:

A mata das ilusões
- De autoria de Massao Daigo com tradução de Sonia Regina Longhi Ninomiya, o livro narra a saga de um Unpei Hirano, um simples intérprete, que se torna líder e herói. Descreve o deslumbramento dos imigrantes com a imensidão da terra e da riqueza das florestas. A obra recebeu prêmio no Japão.

Memórias de um imigrante japonês no Brasil - O colono das lavouras brasileiras e depois artista plástico e ensaísta, Tomoo Handa descreve neste livro as condições geográficas e econômicas das fazendas ocupadas e minúcias do dia-a-dia dos imigrantes.

Os Japoneses - Célia Sakurai publicou pela Editora Contexto o livro que mostra de onde vêm as imagens cristalizadas que todos têm sobre o japoneses. Atravessa a história, o mito do milagre japonês, até o Japão pop de hoje.



Postado em 15 de Abril de 2011 às 14:04 na categoria Arquivo Y do blog Retalhos

Não dá tempo

Não dá tempo, não dá tempo, não dá tempo...
Pára o tempo, pára o tempo
Por favor
Quero descer
Desse tempo, sem tempo para se viver

Não dá tempo de fazer
Não dá tempo de dizer
Não dá tempo de escrever

Não dá tempo, não dá tempo, não dá tempo...
Pára o tempo, pára o tempo
Por favor
Quero descer
Desse tempo, sem tempo para esquecer

Quero um relógio sem ponteiro
Aliás, nem relógio e nem dinheiro
Sem pudor ou devaneio, quero só meu um dia inteiro

Mas não dá tempo, não dá tempo, não dá tempo...
Pára oh tempo, pára
Para eu passar
Para eu pensar
Pára tempo, pára
Para o tempo passar...

4.04.11

Postado em 04 de Abril de 2011 às 14:04 na categoria Arquivo Y do blog Retalhos

Influentes na história


“O ser humano vivência a si mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do universo, numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza. Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior.”
Albert Einstein
Na história da humanidade foi sempre a influência que promoveu os avanços e atrasos mais significativos. Exercida por um ser humano sobre outro, a influência não pode ser calculada em valor ou medida em extensão e muito menos imposta, mas possui uma capacidade de modificar o comportamento social que a tornaria uma verdadeira arma se pudésse ser produzida. Em sua essência, constitui uma força natural de motivação humana capaz, de forma gradativa, de promover enormes alterações. Há incontáveis exemplos históricos de como ela esteve sempre associada às grandes transformações pelas quais o mundo passou.

Nas mais diversas áreas do conhecimento, houve sempre pessoas movidas por muita determinação que terminaram por se transformar em ícones de seu tempo, sendo o resultado de seus esforços, muitas vezes, reconhecido somente muitos anos depois de efetivado. Assim, por exemplo, pode-se citar a transformação por que passou a indústria no século XX influenciada pelos ideais de produção de um jovem agricultor norte americano, nascido em 1853, que desejando diminuir o trabalho manual na fazenda com o uso de máquinas se tornou um dos maiores industriais da história.

Não fosse a persistência de Henry Ford, que só conseguiu montar a Ford Motor Company com 40 anos de idade, talvez o mundo ainda demorasse a aplicar a montagem em série, produzindo em massa a um menor custo. Suas idéias modificaram todo o pensamento da época, foi através delas que se desenvolveu a mecanização do trabalho, a padronização do maquinário e, por conseqüência, dos produtos.

Ford revolucionou os transportes e a indústria norte-americanos. Construiu um carro simples, fácil de usar e acessível e convenceu as pessoas de que precisavam dele não apenas para passeios de final de semana, mas para o dia a dia. Foram vendidos 15 milhões de unidades do “Modelo T” nas quase duas décadas em que foi produzido.

Na eleição realizada pela revista Time para a escolha das 100 maiores personalidades do século XX, Henry Ford ocupa uma das 20 posições destinadas à categoria Builders & Titans (Construtores & Titãs) e, em trecho da matéria dedicada a ele, escrita pelo ex-presidente da Ford, Lee Iacocca, descreve-se: “Produziu carros acessíveis, pagou altos salários e ajudou a criar a classe média. Nada mau para um autocrata”.

Para o bem ou para o mal, é certo que a influência age sobre o mundo desde os primórdios, como uma força ativa e operante, guiada pelas intenções humanas. Tanto que a primeira influência exercida de que se tem conhecimento (independente de sua veracidade), a de Eva sobre Adão para que comesse o fruto proibido da árvore da ciência, modificou o curso da humanidade, privando-a da perfeição e da perspectiva de vida infindável e condenando-a a expiação. (continua...)

Outro grande influente, o físico alemão de origem judaica, Albert Einstein, autor da teoria da relatividade e de importantes estudos em ondulatória, tornou-se mundialmente conhecido por seus estudos teóricos terem possibilitado o desenvolvimento da bomba atômica, embora ele próprio não a tenha inventado. Assistindo a transformação do mundo em um “antes” e um “depois” da invenção da arma nuclear, Einstein não se isentou e escreveu:

“Minha responsabilidade na questão da bomba atômica se limita a uma única intervenção: escrevi uma carta ao presidente Roosevelt. Eu sabia ser necessária e urgente a organização de experiências de grande envergadura para o estudo e a realização da bomba atômica. E o disse. Conhecia também o risco universal causado pela descoberta da bomba. Mas os sábios alemães se encarniçavam sobre o mesmo problema e tinham todas as chances de resolvê-lo. Assumi, portanto, minhas responsabilidades”.

Pacifista, no entanto, afirmou que a liberação da energia atômica mudou tudo, menos a maneira de pensar do ser humano e teve em vida uma conduta, em atitudes e argumentos, que o tornou mais famoso do que qualquer outro cientista na cultura popular, transformando seu nome em um sinônimo de genialidade e sua face uma das mais conhecidas em todo o mundo.

Foi eleito pela revista Time como a “Pessoa do Século” e em 2005, em comemoração dos 100 anos do chamado “Annus Mirabilis” (ano miraculoso) em que publicou quatro dos mais importantes artigos científicos da física do século XX, foi celebrado o Ano Internacional da Física. Em sua honra, também foi atribuído a uma unidade usada na fotoquímica o nome de einstein e a um elemento químico, o de einstênio.

Em todas as áreas do conhecimento o fenômeno da influência acontece, de forma perceptível ou não. Dois grandes influentes das artes são Leonardo da Vinci e Charles Spencer Chaplin Júnior. O primeiro, autor de pinturas consideradas como obras-primas supremas dentre as já produzidas pelo homem. O segundo, o mais homenageado cineasta de todos os tempos. Ambos inovadores e dotados de inigualável capacidade de contribuir com o desenvolvimento da arte.

Da Vinci utilizou em suas pinturas técnicas próprias na aplicação da tinta e na graduação sutil da tonalidade, usou em suas obras todo seu conhecimento de anatomia, luz, botânica e geologia e seu interesse na fisiognomonia e na maneira pelo qual os humanos registram emoções em suas expressões e gestos. Assim, tornou-as famosas em todo o mundo. “Monalisa”, “A Última Ceia” e a “Virgem dos Rochedos” são algumas delas.

Chaplin foi uma das personalidades mais criativas que atravessou a era do cinema mudo. Atuou, dirigiu, escreveu, produziu e financiou seus próprios filmes, criando um dos mais reconhecidos personagens da história do cinema, o “Carlitos” ou “O Vagabundo” (como é conhecido no Brasil). Em “Tempos Modernos” (1936), um de seus filmes mais conhecidos, criticou a situação da classe operária e dos pobres.

Assim como esses, muitos outros nomes podem ser citados desde os tempos mais remotos como personalidades influentes na história da humanidade. Para listar apenas alguns: Sócrates, Platão, Confucius, Aristóteles, Charles Darwin, Sigmund Freud, William Shakespeare, Ernest Hemingway, Vincent van Gogh, Michelangelo, Pablo Picasso, Genghis Khan, Mohandas Karamchand Gandhi, Madre Teresa, Che Guevara, Fidel Castro, Abrahan Lincoln, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek de Oliveira, Bill Gates, Ludwig van Beethoven, Elvis Presley, Luciano Pavarotti, Roberto Carlos, Michael Jordan, Roger Federer, Tiger Woods, Maria Sharapova e Pelé.

A influência pode ser exercida em todas as áreas, desde um cenário micro até um macro. Ser influente é, antes de tudo, ser alguém que acredita em seu potencial produtivo e persegue seus objetivos sendo, por isso, respeitado e seguido pelos demais.


(Materia publicada na Edição Especial de aniversário de 23 anos da Revide - 26/09/2009)

Postado em 04 de Abril de 2011 às 12:04 na categoria Arquivo Y do blo Retalhos

Para não passar em branco

Esta semana, mais uma vez, assistimos horrorizados a notícia da morte de uma criança. Desta vez, a menina Lavínia Azeredo, de 6 anos, asfixiada com o cadarço de um tênis pela amante do pai. Digo mais uma vez porque não são poucas as notícias de morte de crianças por violência doméstica ou sexual, maus tratos, negligência ou acidente. Na semana passada acompanhamos emocionados o resgate da menina Crystal da Silva Cardoso, de um ano e dois meses, que ficou submersa por 20 minutos no Rio Morto, depois de um acidente de carro, mas conseguiu ser reanimada pelos bombeiros. No dia seguinte veio a notícia de que ela não resistiu.

Dias antes,  a menina Letícia Lima dos Santos, de 6 anos, fora esfaqueada e estuprada em Frutal (MG). Em Brasília, no início de fevereiro, a menina Daniela Camargo Casali, de dois anos e sete meses, morreu afogada durante a aula de natação na piscina do colégio onde estudava. Três dias antes, em Tefé (a 525 quilômetros de Manaus) um menino de um ano de idade (seu nome não foi divulgado) morreu carbonizado em casa, enquanto seus pais estavam em uma festa.

Isso para falar de casos noticiados em pouco mais de um mês. No final do ano, houve o caso da menina Stephane dos Santos Teixeira, de 12 anos, morta após receber vaselina na veia em vez de soro. Aqui mesmo, em Ribeirão Preto, Maria Cecília da Silva, de seis meses, morreu afogada em um balde com água utilizado para umidificar o ar, que estava ao lado da cama em que ela dormia, no mês de setembro. Um caso semelhante já havia ocorrido em outubro de 2009, quando outra criança, esta de quatro meses, também morreu afogada em uma bacia ao lado da cama.

Enfim, uma sucessão de fatos – tristes, muito tristes - que não podem ser ignorados. Na correria da vida fica difícil refletir com profundidade. A gente assiste ou lê a respeito, se emociona, chora, lamenta ou se revolta, até se coloca no lugar dos pais e é capaz de sentir a sua dor. E então segue o curso da vida... Um dia após o outro. Como se não fosse conosco. Até o dia em que um pesquisador lança os resultados de um estudo com as razões científicas para o aumento do índice de mortes de crianças. Pronto! Está explicado. Até o dia em que um historiador, lá no futuro, escreve sobre a razão pela qual a humanidade deixou de se importar com suas crianças, de se incomodar com a sua morte...

Mais qual sentido é este?  O que está acontecendo? Os pais não amam mais seus filhos, não zelam mais por eles, a vida está muito difícil, muito corrida, é preciso ganhar o sustento das crianças e, por isso, não há tempo para cuidar melhor deles, os seres humanos estão voltando às origens e se tornando selvagens, o “fim do mundo” está próximo? Afinal, alguém pode responder?

Vamos pensar juntos à respeito, para que esperar a próxima notícia. Vamos conversar, polemizar, teorizar. Definitivamente, vamos fazer algo. Sem politizar. Apenas porque sou mãe, e você também, ou é um pai. Apenas porque somos seres humanos e podemos – sim – pensar e agir diferente.

No dia 29 de março serão três anos da morte de Isabella de Oliveira Nardoni. Só mais um dia de dor para os que a amavam. Assim como tantos dias para tantos outros... Mas esta dor, embora não estejamos atentos, também é nossa.

Pense, comente!

Informe-se:
Violência contra criança é maior que estatísticas

Postado em 04 de Março de 2011 às 17:03 na categoria Pausa e Ponto do blog Retalhos

Mude, plante uma muda


As pernas de Josivaldo pesavam mais do que de costume. O andar era lento e o cansaço aumentava, a cada passo, com o sol forte castigando o couro, feito açoite em tempos de escravidão. Andava ziguezagueando em busca de sombra. Longe dali, Maria Rita aguardava um ônibus para ir para a casa. Cheia de sacolas, lamentava a falta de sombra, o calor e a espera. Lembrou dos tempos de criança, da gostosa Mangueira no quintal da casa da avó. "Aquilo sim era vida", pensou. Mais adiante, José Carlos também sofria com o calor, dentro do carro. O vento quente que entrava pelos vidros abertos não ajudava. Sentia o suor molhar a camisa, escorrer pelas pernas e não encontrava uma sombra para estacionar. Em dias assim, como desejam chuva Josivaldo, Maria Rita, José Carlos, Ana Maria, Clarice, Eduardo, Miguel, Renata, Roberto...

O trecho, embora fictício, ilustra com fidelidade o cotidiano dos ribeirãopretanos que enfrentam no verão temperaturas que variam de 29ºC a 40ºC. Distantes do ar condicionado em casa, no carro ou no trabalho e da piscina no quintal, muitas pessoas se habituaram ao forte calor tropical e nem imaginam que a sensação térmica poderia ser outra se, simplesmente, houvesse mais árvores na cidade. Para quem duvida, vale o teste de uma passadinha pelo campus da USP. Com um terço das árvores do município, o lugar é um dos poucos onde, além da temperatura mais amena, pode-se usufruir da beleza da natureza em uma caminhada.

Com uma topografia tipo "panela", que contribui para a sensação de abafamento, insuficientes áreas verdes públicas e particulares (espaços urbanos livres de edificação e com presença considerável de vegetação e solo permeável) e incontestável falta de consciência ambiental da população e de seus sucessivos governantes, a cidade não consegue atingir o percentual ideal de cobertura vegetal, capaz de manter o clima mais fresco.

"A população ainda não percebeu que a arborização urbana é fator preponderante para resolver grande parte do problema do calor na cidade que está encrustrada em um buraco, é uma cratera e com basalto em seu subsolo, uma pedra escura e extremamente dura, utilizada para pavimentação de ruas, que durante o dia absorve grande quantidade de calor e à noite libera parte dele, retendo o restante. Eu moro numa casa com 12 mangueiras em volta. Se medir a temperatura na casa vizinha, provavelmente estará entre dois e três graus acima da minha", explica o presidente da Sociedade de Defesa Regional do Meio Ambiente (Soderma), Paulo Finotti.

Ainda no "jardim da infância", o Código Municipal de Meio Ambiente, instituído em 2004 pela Lei 1.616, dá os primeiros passos em direção a uma Ribeirão Preto melhor para se viver. Espera-se que, no futuro, a exigência do licenciamento ambiental para o desenvolvimento de novos empreendimentos evite a ocupação de áreas próximas aos rios e o consequente problema de enchentes e que o Relatório de Análise de Risco Ambiental para o Município (RARAM) seja um instrumento efetivo na implementação e manutenção de uma sociedade sustentável.

Enquanto isso, cada ribeirãopretano pode ajudar no processo de urbanização inteligente, preservando as matas ciliares para se ter água para beber daqui a alguns anos e mantendo uma quantidade ideal de áreas verdes para resfriar o ar que todos respiram. Não é necessário ser biólogo, engenheiro agrônomo, ecólogo, nem o mais engajado dos ambientalistas para contribuir. Gestos cotidianos simples são de grande valia para a natureza, como não jogar lixo nas ruas e fazer seleção de recicláveis em casa, evitar uso de sacolas plásticas e não desperdiçar água lavando calçadas e quintais.

"Atitudes verdes" existem e há pessoas mais ou menos ativas atuando nesse sentido. O projeto "Cobertor Verde", por exemplo, implantado em setembro de 2009 pelas secretarias municipais do Meio Ambiente e da Educação com a finalidade de estimular o plantio e ampliar as áreas verdes na cidade já semeou mais de 35 mil mudas.

O projeto organiza plantios permanentes em parceria com escolas e teve sua 11ª etapa realizada no primeiro semestre deste ano, quando alunos participantes do 23º Encontro Regional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo da Regional de São Paulo (EREA), plantaram 100 mudas de árvores no campus do Centro Universitário Moura Lacerda.

"O "Cobertor Verde" está suspenso durante o período de estiagem e reinicia as atividades no dia 21 de setembro, Dia da Árvore. Voltaremos a fazer o plantio em cinco AVP (áreas verdes públicas) e cinco APP (área preservação permanente). Nesse trabalho, contamos com a participação de escolas, entidades religiosas, polícia, bombeiros e todos os voluntários cadastrados dando sempre preferência ao plantio na região leste, de reposição do Aquífero Guarani. Somando o trabalho da Secretaria (15 mil) com o do convênio (35 mil) temos em torno de 50 mil mudas plantadas. No período das chuvas, reavaliaremos esse plantio e faremos a reposição necessária", explica o diretor de gestão ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Edmur Eodair Manfrin.

Outra iniciativa de educação ambiental tomada pela Secretaria foi a publicação de uma cartilha chamada "Vamos arborizar Ribeirão Preto", que ensina tudo o que é preciso saber para plantar uma árvore corretamente. "A arborização é feita, muitas vezes, sem a mínima condição de progresso, são árvores imensas colocadas em baixo de fios de alta tensão ou então que destroem calçadas, sem haver por parte da população uma procura de qualidade, uma escolha acertada da árvore a ser colocada em frente de casa. As folhas que caem são consideradas sujeira quando na verdade não é nada disso. Ribeirão Preto tem uma porcentagem três ou quatro vezes menor de arborização do que a estabelecida nos setores internacionais que cuidam do assunto. Essa é uma necessidade urgente e a população pode e deve ajudar", comenta Finotti.

Não se pode deixar somente com as crianças a responsabilidade de semear uma cidade mais verde para todos. Tampouco sair por aí cavando buracos indiscriminadamente, sem levar em consideração a seleção de mudas que, preferencialmente, devem ser de espécies nativas para contribuir com a fauna, e sem considerar questões como o porte da árvore em relação à largura das calçadas, canteiros e rotatórias, a localização de redes coletoras de esgoto e água pluvial, e de redes aéreas de fiação elétrica, telefônica e de TV a cabo, além das placas de sinalização de trânsito.

Buscar orientação técnica na Secretaria Municipal do Meio Ambiente ou no Horto Florestal Municipal é a melhor forma de contribuir. Ribeirão Preto possui muitas áreas verdes públicas, como praças e parques, ainda não arborizadas. Esses locais são ideais para o plantio de espécies de grande porte e importantes para diminuir os riscos de enchentes já que, quando vegetados, permitem a infiltração e o amortecimento da força das águas de chuva que escoam pela superfície.

Como explica a bióloga Viviane Gaya Laguna, as árvores são imprescindíveis no contexto urbano. "As pessoas que possuem árvores plantadas nos fundos ou na frente de seus terrenos têm uma sensação térmica de 4ºC a menos do que as demais. A sombra de uma folhagem, que absorve a luz e a transforma, não se compara a uma de concreto ou plástico, que absorve a luz e transmite o calor para baixo", ressalta a bióloga.

Além de oferecer sombra e embelezar, as árvores também reduzem a intensidade de ruídos e a poluição do ar, melhoram o solo, diminuem o impacto da água da chuva, contribuem para a manutenção da fauna e criam lugares agradáveis para encontros, descanso e brincadeiras, transformando parques, praças e ruas em espaços de cidadania que, como tais, merecem toda atenção, respeito e conservação, por seu valor ambiental, paisagístico, histórico, cultural e até turístico.

Na busca pela superação do índice recomendado pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU), de 15 m² por habitante de área verde pública, a administração municipal conta com a participação popular, colocando os viveiros públicos à disposição para informações e fornecimento de mudas. O Horto Florestal Municipal - Parque Ângelo Rinaldi pode ser contatado pelos tels.:(16) 3626.0235 e 3626.2659. O CATI - Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes através dos tel.: (16) 3626.0235 e 3626.2659.

Arquivo pessoal - matéria publicada na ed. 521 da Revide / confira AQUIFoto: Luciano Firmino Piton

Postado em 28 de Fevereiro de 2011 às 17:02 na categoria Arquivo Y do blog Retalhos

Belas artes

Sinto falta em nossa cultura da verdadeira apreciação das artes. Falta-me bagagem para falar do tema - as aulas de História das Artes no antigo Colegial, com a professora Miúcha, bem que tentaram, mas... - infelizmente, só me resta flutuar nesse oceano de prazeres e, vez ou outra, encontrar uma ilha para caminhar um pouco e, então, continuar a busca.

Gostaria, sinceramente, de entender mais e participar mais. Ir a exposições, acompanhar técnicas e tendências, conhecer novos artistas e ser capaz de formar opiniões consistentes sobre sua obra. Ter uma turma de pessoas para me ensinar e, juntos, apreciarmos o que Ribeirão Preto pode oferecer nesse sentido. Mas há um espaço - oco - preenchendo esse desejo.

Me pergunto se não haverão outros, assim como eu, dispersos nesse mar de ideias. Aflitos, perdidos, desejosos... Distantes do que é seleto, longe da beleza que se pode ver, mas que não se pode ter...

Enfim, só por hoje, posso dizer: gosto ou não gosto. E gosto muito das obras da Mônica Vieira de Carvalho.

Não sei quem ela é. Não a conheço pessoalmente. Mas suas telas me chegaram num desses "acasos virtuais" e, imediatamente, tocaram minha alma. Entrei em contato e descobri que a artista gosta muito de desenhos, desde menina, mas só a dois anos voltou a desenhar. "Procurei o Atelìê da Praça, da artista plástica Eny Aliperti Ferreira, e acabei me encantando pela pintura", conta.

Sua influencia vêm de desenhos e cartuns, mas a maior inspiração são os trabalhos do modernista Amadeo Modigliani e de Diego Rivera, um pintor de vanguarda.

Mônica não participa de exposições, mas suas telas estão no Facebook. Olhem só, aqui tem uma prévia, o que acham? Não tenho razão em gostar?

E vocês, não têm artistas adormecidos em vocês também? Ou apreciadores de arte que não somente o cinema?



Postado em 23 de Fevereiro de 2011 às 12:02 na categoria Causa e Conto do blog Retalhos

Íntimo e Pessoal_ uma visão particular



Imagino que toda pessoa deva ter uma resposta para a pergunta: qual filme você mais gostou de assistir?

É claro que a lista é longa e fica difícil escolher entre tantas boas opções que o cinema já produziu, mas um filme em particular deve tocar de forma especial a alma de cada pessoa, ao ponto de se tornar o número um de sua lista.

No meu caso, é Up Close an Personal (Íntimo e Pessoal) um romance lançado nos EUA em 1996. O filme foi baseado na biografia "Golden Girl", da escritora Alana Nash, que conta a história real da jornalista americana Jessica Savith, que morreu vítima de um acidente de carro, no auge da carreira.

Dirigido por Jon Avnet - diretor também do filme Tomates Verdes Fritos - e com roteiro de Joan Didion e John Gregory Dune, o longa traz no elenco Michelle Pfeiffer e Robert Redford vivendo o casal de jornalistas Sally Atwater e Warren Justice.

A história é bem simples (como tudo na vida): garota de cidade pequena quer mudar seu destino e ser uma jornalista famosa. Mas não vamos simplificar tanto assim... O filme é lindo. Faz repensar a vida e renova a esperança de mudar o destino e realizar os mais íntimos sonhos... Fala de amor, de coragem e de caráter. Faz refletir sobre a necessidade de seguir adiante, aprender com todos os ensinamentos e as oportunidades que a vida oferece e não deixar escapar duas coisas essenciais: amor e verdade.

O drama-romântico é uma mistura bem elaborada de aspectos técnicos, textuais, visuais e sonoros. Desde a seleção dos atores - Michelle Pfeifer e Robert Redfort identificaram-se com as personagens formando um par cúmplice e cativante -, até a escolha das músicas - o filme ganhou o Oscar de melhor canção com "Because You Loved Me"-, em tudo se procura de forma simples, bela e sensível transmitir ao público a mensagem de renovação.

Para mim, o ponto alto da obra é a maneira sutil como lida com a vaidade humana e retrata a busca incansável pelo sucesso e pela felicidade no amor.

O filme se utiliza de muitas metáforas, até pelo gênero, trabalhando o sentido das palavras para insinuar o contexto. Alguns exemplos são quando Warren se refere Tally comentando que “ela devora as lentes”, preanunciando sua competência e sucesso, ou quando diz a ela que “não é boa companhia de manhã” para alertar que não era bom com relacionamentos. Mas a metáfora de maior profundidade do filme é a que se refere ao verdadeiro valor de um jornalista, “o que nós dos noticiários não podemos nos esquecer é que valemos pelas histórias que contamos”.

As personagens de Warren e Tally foram construídas sobre um estereótipo do jornalista televisivo como alguém muito preocupado com a imagem e pouco com a mensagem, com a finalidade de transmitir a milhões de telespectadores um fato que, embora possa não lhe interessar, influencia positiva ou negativamente sua vida.

Warren é um jornalista íntegro, honrado, idealista, comprometido e sério e que, por isso mesmo, é considerado difícil, intratável e tem uma carreira “espinhosa”. (Uma particularidade: este papel interpretado por Robert Redford, muito se assemelha a sua personalidade. O ator, assim como a personagem, é considerado em seu meio uma pessoa difícil, que só faz as coisas a sua maneira).

Tally, por outro lado, é uma mulher sensível e batalhadora, com uma personalidade também forte, porém cativante. A construção de sua identidade se dá ao longo do filme, permitindo ao público refletir sobre como uma inexperiente repórter, se bem orientada, pode tornar-se uma excelente jornalista. Tally sempre muito preocupada em aparecer no início, se vê de repente sendo rejeitada pelo público, arrasada pela âncora rival que a expõe ao ridículo em determinadas situações, balançando sua auto-estima e estremecendo sua carreira, até que Warren a ajuda a enxergar: “Dê-lhes Tally Atwater, diz ele. Onde está Tally Atwater? Para conquistar a confiança de milhões de telespectadores você precisa ouvir o que eles dizem”. E Tally finalmente entende qual o significado de ser uma repórter e surpreende realizando sozinha uma grande matéria e conquistando o mais alto posto de uma carreira jornalística.

Um aspecto de grande beleza formal na obra, para mim, está na cena em que Tally decide improvisar, ao invés de seguir o que estava escrito no telepronter, no momento de seus agradecimentos. E falando com a voz do coração, libertando-se dos padrões e tomando definitivamente posse de si mesma, agradece a quem realmente é digno de aplausos. “Eu só estou aqui para contar uma história”, encerra.

Em Íntimo e Pessoal, a idéia por trás do romance das personagens Tally Atwater e Warren Justice, parece ser a de demonstrar ao grande público a fragilidade humana. Utilizando-se do enredo amoroso, o autor parece denunciar, na exposição do cotidiano das personagens, a grande luta de todos nós contra nossas próprias fraquezas e mazelas. Em seguida, busca demonstrar a necessidade de se ter esperança, determinação e caráter.

“Contando a história do casal de jornalistas", o autor propõe uma reflexão mais profunda da ética jornalística. E o mais interessante de tudo... Através do filme, ele diz exatamente o que suas personagens vivenciavam: que ele (o autor) esta alí, fazendo esse filme, para "contar uma história"... E, quem sabe, oferecer ao público uma nova nuance dos fatos para reflexão...

MAIS SOBRE A OBRA

Influências e antecedentes da obra
Em 1988 Dunne e Didion foram contratados pela Disney para escrever um roteiro sobre Jessica Savitch, uma jornalista nova, cuja carreira foi interrompida pelo abuso de álcool e um acidente fatal de carro. Assim nasceu Íntimo e Pessoal, que teve como influência a biografia "Golden Girl", da jornalista e escritora Alanna Nash, que narra no livro a história verdadeira de uma jornalista americana que conquistou as telas e a simpatia do público para depois perdê-la na bebida, terminando morta aos 36 anos em um acidente de carro. Particularidade: Em uma discussão do projeto, Jeffrey Katzenberg, chefe da Disney, levantou a questão da morte de Savitch no fim do filme. "O que estará neste retrato que fará o público sair do sentimento "réplica" e refletir?”, pediu. O final é surpreendente.

Sobre os roteiristas
Joan Didion foi novelista, ensaísta e escritora freelancer por mais de três décadas, trabalhou como editora na Vogue antes de transformar-se em uma escritora conhecida por seu ponto de vista da política e da cultura americana. Recebeu uma medalha em 1996 de Edward MacDowell e a concessão em 1999 do journalism de Colômbiaé. As coleções de seus ensaios incluem Slouching para Bethlehem (1968) e o Album branco (1979). Casou-se em 1964 com John Gregory Dunne, com quem dividiu a autoria de artigos, roteiros e colunas. John Gregory Dunne, nascido em maio de 1932 e morto em dezembro de 2003, aos 71 anos, é definido em páginas memoriais na internet como um jornalista e novelista que compartilhou com a esposa Joan Didion o fascínio pela película. John Gregory Dunne e sua esposa Joan Didion eram considerados o par literário mais quente dos Estados Unidos.

Avaliações críticas/ Premiações
Nos EUA: Leonard Maltin, por exemplo, chama a atenção para as boas performances de Robert Redford e Michelle Pfeiffer, "que sustentam o filme." Para Mick Martin e Marsha Porter o que faz dessa uma bela história de amor é o fato de ter sido filmada à moda antiga de Hollywood. No Brasil: Segundo Rubens Ewald Filho, por exemplo, Robert Redford "mexeu tanto no roteiro que acabou transformando o filme numa banal história de amor, com a heroína muito mais suavizada, sentimental e pseudo-sofisticada." Para a equipe do guia NOVA CULTURAL "o bom diretor Avnet compromete o roteiro ao escorregar muitas vezes na pieguice. Pfeiffer é perfeita para o papel . Os mais românticos devem aprovar o resultado."(www.2001video.com.br) Íntimo e Pessoal recebeu uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Canção Original ("Because You Loved Me"). Recebeu também uma indicação ao Globo de Ouro, na categoria de Melhor Canção Original ("Because You Loved Me"). E ganhou o Grammy na categoria de Melhor Canção Composta Especialmente Para um Filme ("Because You Loved Me").

Postado em 25 de Fevereiro de 2011 às 16:02 na categoria Arquivo Y do blog Retalhos

Mais do mínimo

salário mínimo
O plenário da Câmara dos Deputados reúne-se hoje - em sessão extraordinária, é claro -, para a votação do aumento do salário mínimo. Nos últimos dias, ávida por pautas, muito especulou a imprensa acerca de diferentes propostas de valores e suas conseqüências para a economia do país, além de destacar posicionamentos políticos a favor ou contra o aumento proposto pelo governo de R$ 545,00. Faltou apenas perguntar para o povo o que ele acha.

Ora, mas que inocência a minha. É claro que ele acha que ganha pouco e que merece um reajuste à altura - não de sua subsistência -, mas de uma vida digna, com direito ao consumo de bens não só alimentícios ou vestuários, mas também de tudo o que a tecnologia e o conforto podem oferecer, além, obviamente, dos prazeres de freqüentar bons restaurantes, assistir belos espetáculos, adquirir joias e obras de arte e viajar em férias com a família.

“Macaco velho” nessa história de pão e circo o povo cansou de gritar, de esbravejar, de ser socialista, de sonhar... Recolheu-se em si mesmo, em algum tempo entre a Ditadura e o “Fora Collor”, e já não acredita mais nem que Hobin Hood tenha existido. A coisa vem assim desde meados da década de 30, quando o salário mínimo foi instituído. Não vale à pena, agora, perder tempo torcendo por jogo comprado, não é mesmo? Amanhã o salário mínimo será de R$ 545,00. E olhe lá...

Os representantes das centrais sindicais e integrantes das Confederações Nacionais da Indústria e dos Municípios são apenas figurantes de mais este “ato” da Democracia.  Fazer o que se não soubemos escolher os papéis principais?

Driblando daqui e ludibriando dali, o reajuste que já deveria estar no bolso do trabalhador desde o primeiro dia do ano, só está saindo agora. "Vamos dar Graças a Deus”, diria o bom caboclo, esquecendo-se de tudo... Esquecendo, por exemplo, que em dezembro, no último dia de votação na Câmara, o plenário aprovou o projeto de aumento de 61,83% nos próprios salários, de 133,96% no  salário do presidente da República e de 148,63% no salário do vice-presidente e dos ministros de Estado, igualando tudo em R$ 26.723,13, mesmo valor do salário do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

E dá-lhe: Liberdade, igualdade e fraternidade. Pois, é... Lógico que não daria para discutir reajuste do MÍNIMO logo depois disso. Afinal, onde ficaria a cara - de pau – dos parlamentares aprovando ninharia para o povo?  O Congresso daria mais aumento e vocês sabem (a imprensa enfatizou) nas contas do Palácio do Planalto, cada real de aumento significa acréscimo superior a R$ 280 milhões no orçamento do governo. Uma lástima!

Mas não sejamos pessimistas (tampouco otimistas). No episódio vergonhoso do próprio aumento foram 35 votos contrários. Quem sabe a "memória do caboclo" funcione em 2014 e mais andorinhas façam verão...

Enquanto isso, o show da vida continua... E a apresentação dos palhaços é a mais assistida.


Informe-se:
"Quem apoiou a votação do aumento para os parlamentares"

Postado em 16 de Fevereiro de 2011 às 16:02 na categoria Pausa e Ponto do blog Retalhos

Histórias da hora do almoço




Outro dia, lá em casa, a cena era essa: a comida em cima da mesa, "Seu menino" sentado de frente, "Dona moça" sentada de um lado e "Seu fióte" do outro com a boca farta de panqueca. Eu quieta, garfando aquele recheio gostoso de palmito, sem pensar em nada que preste. De repente, alguém corta o silêncio da refeição reclamando das formigas.

- Pois é, diz seu menino devar...

- As formigas pensam que são donas do mundo.
- As abelhas pensam que são donas do mundo.
- Os homens pensam que são donos do mundo.
- As baratas são!

E todo mundo cai na risada.

Pensam que acabou? Vem mais...

Engajado na questão das formigas "Seu menino" comenta:

- Sabiam que tem um formigueiro na Europa que começa na Espanha, passa por Portugal e termina na França?

E todo mundo se olha com aquela cara de "Nossa, de onde ele saiu com essa?".

Engraçadinha, "Dona moça" termina:
- São formigas trilíngues!

Quase engasguei com a panqueca.

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P.S. - Depois dessa, fui procurar. E olha só o que encontrei: "Descoberto na Europa ‘formigueiro’ de 6 mil km"


Postado em 11 de Fevereiro de 2011 às 12:02 na categoria Causa e Conto do blog Retalhos

Questão de ordem


Esta semana a imprensa escrita e televisionada noticiou a agressão de uma mulher a um funcionário de posto de saúde, pela demora no atendimento, o que resultou na suspensão temporária das atividades na unidade. Questão de ordem: falta segurança nos postos de saúde, falta segurança ou falta saúde? Falta humanidade no atendimento aos doentes ou na remuneração e condições de trabalho dos atendentes? Todas questões muito batidas... Pouco interessantes para quem não precisa sentar o bumbum em um banco duro ou esperar em pé, durante horas, por um atendimento médico. Igualmente irrelevantes para quem por sorte ou por escolha se distanciou da simplicidade dos ambulatórios públicos. Tão batidas que nem vale à pena falar. No correr das horas e das lamúrias, para que falar dos mal pagos, dos mal humorados, dos mal educados? Vivamos, cada um, nossas próprias mazelas e vamos falar de flores, de tambores, de jogadores... Não é mesmo assim?

Postado em 11 de Fevereiro de 2011 às 12:02 na categoria Pausa e Ponto do blog Retalhos

Fui eu que fiz