10 de setembro de 2012

Viver sem existir



Há uma angústia de ser em existir
Se se desiste ou se persiste
Não importa...
Ela existe!

Vive e cresce
Feito a planta sem água no deserto
Feito a Lua no céu, ainda dia
Feito o som, na rouquidão da alma

Tece a sua teia em quem se deixa prender...

De dizer que sou de ferro
De dizer que não me nego
De esquecer que sou assim
Me rasgo, me torço, me rabisco
Vivo a vida do Alecrim
Florescendo sempre nos jardins
Sem cuidados especiais

De gritar a surdez do corpo,
De cheirar a nudez da cerne
De tocar o vazio do mundo
Me sangro, me amo, me belisco
Vivo a vida do colibri
Adaptando-me ao formato da flor
Para sobreviver

Há uma angústia de viver em existir
Se se explora ou se nega
Não importa...
Ela existe!

Domina, toma posse, e sem pedir licença
Acinzenta, azeda, afugenta
Amedronta, afronta, atormenta
Esvazia ao seu redor de todas as alegrias e virtudes

Qual um mal que não se acabe
Nem um bem que não se finde
Qual um beijo que não se negue
Nem um amor que não se firme
Qual um medo a que se entregue

Lança ao abandono absoluto
A quem se aproxima dela
Sem modéstia e sem culpa
Fazendo adormecer, sem dormir
Fazendo viver, sem sorrir
Só para restituir, reter, redimir
Só para reconstruir e, então, fazer sentir
Só para...
Existir.
(10.04.12)
Poema vencedor 2º lugar, categoria adulto, Prêmio Paulo Freire, Feira do Livro de Ribeirão Preto 2012

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