10 de setembro de 2012

O empilhador de caixas vazias


Era uma vez um menino que tinha muito amor no coração e, enquanto menino, isso lhe bastava.
Queria muito abraçar a mãe e dizer à ela o quanto a amava. Mas ela trabalhava muito e tinha pouco tempo para segurá-lo no colo e dizer a ele o quanto completava sua vida.
O menino contava contente suas peripécias do dia, coisas próprias de um menino cheio de amor e de vida, mas a mãe ralhava logo com as imprudências da infância... Sempre tão preocupada em garantir ao menino o sustento da carne e ensinar-lhe como sobreviver às dificuldades da vida, esqueceu a mãe de alimentar-lhe o espírito e mostrar-lhe a importância da alma e das coisas do coração.
O menino foi crescendo, cada vez mais cobrado, e todo amor que tinha em seu peito ficou sufocado, esquecido e empoeirado num cantinho qualquer da imaginação...
Carente da atenção e do afeto, da forma como desejava, o menino cresceu acreditando que em si se bastasse para ser feliz e que a vida não passava de luta.
Sem saber o que era o amor, fez-se um homem e, por isso, nunca soube amar uma mulher...
Sem saber o que era o amor, fez-se um pai, e, por isso, nunca soube amar os filhos...
Apegou-se aos estudos, meio que para satisfazer a mãe, meio que para fugir dela, e treinou muito para obter da mente mais do que a maioria dos homens é capaz de conseguir. Apoiou-se, assim, na razão, depositando nela toda força de sua raiva, sua descrença e sua motivação.
Virou refém de sua mágoa.
Incapaz de olhar o mundo pelas lentes do coração e de oferecer às pessoas ao seu redor o amor que havia em si, só construiu muralhas.
Impôs tantos limites para os que o cercavam, que terminou ilhado com sua solidão.
Tendo se ocupado sempre de estancar a dor que sentia, esqueceu-se da semeadura para as colheitas vindouras...
Não agregou, não construiu, não venceu(se)!
Foi apenas alguém que cresceu e envelheceu por fora, mas continuou menino por dentro.
O mesmo menino carente de sempre, sufocado, esquecido e empoeirado dentro de si, brincando de empilhar caixas vazias...
Não foi nem tão mal que não pudesse ser bom, nem tão bom que não pudesse ser mal...
Era uma vez um homem que tinha muito amor no coração, mas enquanto homem, isso não lhe cabia.
Queria muito abraçar a mulher e os filhos e dizer a eles o quanto os amava, mas infelizmente não sabia.
05 de Setembro de 2011