10 de setembro de 2012

Angústia contemporânea



Tic-tac, tic-tac, tic-tac.
Lá se vão os segundos, sempre rápidos, sempre ligeiros, a somar os minutos e escorrer por entre as horas da vida.
O relógio é um cárcere. Limita os sonhos, aprisiona os desejos e afugenta a liberdade.
Se deixar, o tic-tac persegue o sujeito logo pela manhã. Cuspindo-lhe os minutos à cara, toma-lhe o direito ao ‘bom dia’ e ao beijo de hortelã antes do bater de porta. Segue, então, consumindo-lhe o humor ao longo do dia, principalmente nas filas, no trânsito e durante o almoço – quando parece mais apressado do que nunca. Por fim, triunfante, tira-lhe por completo a resistência, encurtando-lhe o prazer da convivência com os seus e do merecido descanso.
A angústia contemporânea é acompanhar o tempo!
Ah, o inexorável tempo...
Esse vilão, esse bandido, esse irmão, esse amigo.
Se for cedo demais na vida, o desejo é que passe depressa.
Se for tarde demais na vida, o desejo é que ande devagar.
Difícil mesmo é estar no meio, onde o desejo é explodir.
Tic-tac, tic-tac, tic-tac.
Lá se vão as horas escrevendo, nas poucas horas de sono que tenho, para falar da angústia de viver correndo atrás das horas, a quem menos horas  deve ter do que eu para ler, pois o relógio não deixa.
Uma lástima, um engodo, uma farsa travestida de números.
Subliminares, nos ‘cantinhos’ da vida (no celular, no computador, na televisão, no microondas), os dígitos conduzem nossa história.
Em multiformas coloridas no pulso, feito algemas, as horas nos prendem a angustia de viver, cada minuto, sem saber por que, sem sentir para que, sem saber que... Pode ser o último!
Enfileirados, um após o outro, os segundos contam. E nós, feito bobos, zeramos o dia para disfarçar o peso.
Tic-tac, tic-tac, tic-tac.
E lá se vão 86400 desperdiçados. Sem beijar quem se ama, sem dizer o que se pensa, sem fazer o que se gosta.
Tum-tum, tum-tum, tum-tum.
Lá se vão as batidas do meu e do seu coração. Descompassadas, desprovidas do bom sentido de bater.
Lá se foi a vida, lá se foi o tempo, tudo em vão.
Feito “coelhos brancos”, no País das Maravilhas, seguimos lépidos, apressados, a correr por esse mundo insano atrás do relógio da vida.
- Hãaa!!! Nossa! É tarde, é tarde, é tarde, muito tarde!
Então corra...
(10/04/12)



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