26 de abril de 2011

Carta a uma colega de profissão


Sobre erros e acertos

Existem erros indesculpáveis, mas nenhum é imperdoável. Ou estaríamos todos condenados a uma existência mísera, improdutiva e inerte.

Onde estariam a justiça e a misericórdia Divina se os homens não pudessem recomeçar, reconstruir, refazer, remodelar, readequar, reaprender? Onde estaríamos eu e você, que cometemos erros desde a infância, se não houvesse pelo caminho quem nos tivesse dado outra oportunidade? Quem tivesse acreditado em nossa mudança e nos proporcionado novas chances para nos redimir e evoluir?

Certa vez, quando ainda cursava o antigo ginásio, me envolvi com a política estudantil. Muito mais influenciada por meu pai do que propriamente ávida por ocupar qualquer cargo, mas na verdade acabei “embarcando” na idéia, me divertindo em fazer campanha e, por fim, me elegendo como presidente da chapa  intitulada “Reconstrução”. Uma loucura da qual tenho poucas lembranças. Mas o que mais me marcou, realmente, foi o que se seguiu.

Pouco tempo depois de eleita fui apanhada “colando” em uma prova de História. Uma vergonha! Um despropósito” Um descalabro! A representante maior dos estudantes cometendo tamanha desfaçatez. Meu mundo desabou... Podem imaginar o “buxixo”. Pior foi o desapontamento de meu pai, que para me ensinar uma lição, fez com que eu pedisse à professora para refazer o teste, só que desta vez como prova oral.

Me lembro da sensação de orgulho de mim mesma, por ter conseguido um "A" sem precisar colar, apagada pela vergonha de estar ali em pé diante da classe, me desculpando por ter optado pelo caminho mais fácil quando tinha capacidade de realizar o correto e, acima de tudo,  quando deveria ser um exemplo de conduta para todos os alunos...

(Essa questão do exemplo aflige, ainda mais quando se é mãe, pois constantemente somos colocados à prova e, frequentemente, nos sentimos traídos por nós mesmos.)

Mas assim como esse episódio houveram outros pelo caminho. Certa vez, fuçando nas coisas de meu pai em seu escritório apertei o botão de um gravador e depois não soube desligar. Chamei meu irmão mais velho para ajudar e achei que tudo ficara resolvido. Detalhe: havia apertado o “REC”. E com tudo ali, gravado, não restou outra alternativa para meu pai senão me obrigar a escrever um caderno inteiro de caligrafia com a frase: “Não devo mexer nas coisas dos outros.”

Essas lembranças me marcaram e, ao mesmo tempo, deixaram algo bom: um norte a seguir na vida. Assim, embora muitas vezes ainda escorregue nas lições aprendidas, afinal sou um ser humano e não uma máquina, ainda assim, procuro ser um exemplo de boas atitudes, para mim mesma antes de tudo. Até porque, pior do que a figura de meu pai me corrigindo é a voz da minha própria consciência me cobrando.

Agora imaginem outra situação. Se a professora não tivesse me dado a oportunidade de refazer a prova, para tentar ao menos redimir meu erro, o que eu teria aprendido? Poderia ter reprovado aquele ano ou recuperado a nota nas próximas provas, seja como for, com o tempo eu esqueceria, a professora e os alunos também e tudo não passaria de mais uma “travessura de criança”.

Seria, portanto, muito natural para mim, hoje, aceitar e conviver com as notícias de corrupção que escandalizam quem tem brio, afinal, eu teria passado incólume pelo desvio de caráter. Felizmente, tive quem soubesse me conduzir ao verdadeiro vexame de meu ato e quem tivesse me permito submergir dele alguém um pouco melhor.

Tudo bem que naquela época ainda podia ser considerada uma criança, mas não há desculpa para o que é errado, seja qual for a etapa da vida. É importante destacar nossos erros sempre, de alguma forma, para que eles não se tornem o destaque de nossa existência.

Também é preciso perdoar quem erra e dar-lhe nova oportunidade para se testar, se corrigir, se redimir e evoluir. Isso por uma razão muito simples: ninguém é perfeito, e se nunca errou, nem está errando nesse momento, ainda vai errar um dia e, portanto, vai precisar do perdão de alguém. Mas a vida se encarrega disso...

Eu, cá com meus botões, continuo aprendendo. Constantemente a vida impõe situações para testar meu discernimento sobre os erros e os acertos – tanto os meus como os dos outros -, mas posso apenas responder por mim. Às vezes passo no teste, outras vezes sou reprovada.

É assim que funciona. Uma hora a gente se orgulha outra hora se envergonha. Uma hora a gente chora outra a gente sorri.

Só há uma alternativa...  Continuar caminhando!

Postado em 26 de Abril de 2011 às 15:04 na categoria Pausa e Ponto do blog Retalhos

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